sábado, 11 de dezembro de 2010

Capítulo 11 – Mihael

Pelo que senti em meia aquela outra forte tempestade, algo deu errado para o cara lá de cima. E para ser sincera, eu não estava nem aí. Apesar de ser uma predadora, de certa forma, meu coração tinha um amor muito humano.
 Comecei a refletir sobre tudo que passei quando era uma jovem mortal, e eu gostava. Eu vivia fugindo, mas eu era feliz.
 De repente vi um garoto caindo do céu. Fala sério.
_Eu não vou ajudar aquele anjo. – Comecei a pensar comigo mesma e dizê-la para mim mesma.
 Coitado. Meu imbecil coração falou mais alto do que minha razão imortal. Virei um lobo e corri como pude. Ouvi os pensamentos dele.
_Por quê?! Eu descumpri a lei divina. Senti uma emoção humana. – Pensava ele. – Estou impuro. Mereço maior punição.
_Não, não merece. – Disse eu. Olhei para o pobre anjo caído. Voltei a forma normal.
 Suas asas foram arrancadas com uma agressividade espantosa. Como eu era boba... Acreditava que Deus era piedoso. E que os anjos eram bons. Um erro muito comum.
_Saia daqui, ser profano. – Disse ele, pondo-se de pé. – Não és digna de minha luz.  – Apesar de sua agressividade artificial, seus lindos olhos azuis, mostravam uma doçura incomum.
_Se sou ou não, não importa. – Disse eu, aproximando-me. – Sou a única coisa que esta disposta a ajudar-te. Não sou mãe das mentiras, nem senhora das verdades. Mas o que eu digo agora é sincero. Se quiseres minha ajuda, dizes.
“Não lhe negarei refugio, nem compreensão. Perdoe-me por ser assim, mas não tive escolha. Você foi banido injustamente, por anjos que não sabem perdoar. Deus, apesar de ser poderoso, não nos ama como deve.”
_Não digais o nome do grande, em vão. Com sua boca suja, que exala o cheiro da morte.
_Se quiser minha ajuda, dizes. – Disse eu. – Posso ser uma bruxa e até mesmo uma criatura criada para escuridão. Mas apesar de tudo, não sou aliada aos demônios.
_Olha quem diz. – Disse ele, repetindo meus movimentos de andar em círculos, como um predador que cerca sua presa. – Você mata, e bebe o sangue de inocentes.
_Deus mata indiscriminadamente. – Disse agora atingida pela cólera. – Apenas repito seus atos. Partirei, se desejar minha ajuda, siga-me. Quer-se morrer e for deixado de lado e visto pela igreja como ser profano, suma de meu campo de visão.
_Não matarás. – Disse ele, citando um dos dez mandamentos.
_Até o diabo pode citar as escrituras quando lhe convém. – Respondi. Usei a mesma fala quando conheci meu amado Sitael.
 Virei-me e recomecei minha caminhada. Senti que alguém me seguia.
“Preciso de você.” – Disse ele mentalmente, mostrando-se flexível as opções apresentadas. – “Perdoe-me. Creio que me arrependerei desta escolha, mas vejo que tem uma alma boa.” – Sua voz era suave e angustiada.
_É a única coisa humana que me resta. – Respondi. – Qual seu nome?
_Mihael.
_Virtudes, não é? – Perguntei.
_Como sabes? – Perguntou ele.
_Fácil. – Respondi. – Quando criança – ainda mortal – comecei a pesquisar sobre anjos. Eles sempre me fascinavam. Acreditava que tivesse um bom anjo da guarda, mas quando realmente precisei... Nada.
_Deus olha por todos nós. – Disse ele, colocando a mão em meu ombro.
_Não olhou por mim. – Disse eu, baixando a cabeça. Fitando o chão. – Os santos podem ter sofrido. Mas morro quando mato. – Ouvi barulhos de coisas correndo e vi vultos, e logo, senti um cheiro horroroso de enxofre. – Por favor. Digais que não está sendo seguido...
_Queres mesmo que eu diga?! – Disse ele.
_Vamos dar o fora deste lugar. – Respondi.
 Ele não estava em condições de andar. Nem sei como ele conseguiu me seguir. Lembrei-me de uma magia, antiga, pertencente aos anjos que talvez ajudasse.
 Encontrei minha faca e cortei um pouco de um de meus pulsos, desenhando o símbolo em uma pedra.
_Não se mova! – Disse a ele. Levantei minha mão, para mandar os espíritos para longe. – Acquijure te espiritus nequissimi per Deum onipotentem.
 Era coisa de exorcismo, mas minha avó fez uma vez, e deu certo.
 Deu-se uma fortíssima rajada de vento, que quase me arrastou junto.
                                                                                                       ***
 Avistamos uma cabana abandonada e entramos lá. Mihael parecia muito mal... Fiquei com dor de vê-lo daquela maneira. Apesar de tudo, ele me fez lembrar Sitael, mas eu ainda o amava. Nada mudaria isso. Mihael me deu uma olhada tão profunda, que até me senti mal.
_O que foi? – Perguntei suavemente.
_Dor. – Respondeu ele.
_Cuidarei disso. – Devolvi.
 Arrumei uma bandeijinha com curativos, que eu tinha conseguido roubar do colégio uma vez.
_Relaxe. Cuidarei de você, Miha. – Passei a mão por suas costas, tirando um pouco de sangue diluído com terra.
 Ele extremesseu. Peguei um algodão com guento feito de ervas medicinais, que eu carregava comigo e passei. Ele mordeu a camiseta que dei a ele. Limpei os ferimentos com toda a delicadeza, e me lembrei da vez em que quase beijei Sitael, fazendo um curativo em seus lábios. Lembrei-me. Uma doçura incomum aflorou em mim.
_Seu olhar é tão doce, quando você sonha. – Ele sorriu e me deu um olhar suave como a brisa mais aconchegante.
_Oh! Ops... Desculpe. – Corei geral.
_Não há problemas...
_Que mal lhe pergunte, e se me permite. – Pausa. – Por que você caiu?
_Eu senti ciúmes. Ciúmes de Veuliah estar passando muito tempo com Menadel. – Disse ele, baixando o olhar. – Éramos muito amigos. E depois que Uriel sentiu... Arrancou minhas asas.
_Entendo.
 Ele olhou bem afundo de meus olhos e o flash do corpo dele, se estendeu pelo meu. Vi a minha imagem, a frente de Deus, com a mão direita estendida.  Sim, essa era eu.
_Mátev. – Exclamou ele. 

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