sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Capítulo 8- Sem espécie identificada (Para minha grande amiga: Rhebeca Murbach Neri)

 Andei até ela, e só se escutava o rangir dos meus dentes. Eu estava sedenta de sangue, e adoraria matá-la por ter dito meu nome verdadeiro. Mas, infelizmente, Sitael não deixou que eu o fizesse. Hunft! Que droga!
 Eu tive de segui-lá até uma cabana, até que bem bonitinha. Quando entrei, fiquei boquiaberta, por ver tanta parafernalia de vidente, em uma cabaninha tão pequena. Meu Deus! Como coube tudo aquilo ali?!
  Sentei em uma almofada, aparentemente bem delicada e bem bordada, frente a uma mesinha de madeira gasta. Bem gasta. Ali, tinha tipo um calendário Maia e mais umas coisinhas que eu não sabia o nome. Ela se sentou com dificuldade e finalmente voltou-se para mim.
_Então Ja... – Não a deixei terminar.
_Ananka. – Corrigi.
_Ananka...  – Por incrivel que pareça, ela assentiu. – Tenho uma coisa para você. Eu a espero a muitos e muitos anos.
_Tipo... Uns 80? – Debochei.
_75. – Respondeu ela. Eu ainda sou mais velha.
 Ela pegou do bolso, uma coisa que parecia ser um fras... Sim, era um frasco. Parecia ser feito de ouro, porque reluzia muito. Ela fitou o frasco por mais um momento e me entregou. Peguei-o, abri-o e cheirei seu conteúdo.
_Argh! – Aquela coisa fedia. Fechei-a. – Tem cheiro de sangue, enxofre e cachorro molhado. Que nojo!
_Hoje. Vá até o meio da mata, exatamente a meia-noite, esteja lá. – Disse ela. – Encontre a árvore mais bonita, com desenhos em sua madeira. Quando tocá-la e ela se acender. Beba o conteúdo do frasco.
 Coloquei o frasco no bolso de trás e tirei-o, porque... Vai que aquela merdinha quebra.
_Vá, filha. – Disse ela.
_Eu devia dizer isso. – Disse eu. – Continuo sendo mais velha que você!
                                                                                                         ***
 A noite caiu. E eu fiquei praticamente o dia todo jogando ping-pong com Kaab. Sitael me fitava sem parar, faltava uma hora para meia-noite, e eu estava cada vez mais nervosa.
_Kaab! Chega! – Disse eu ofegante, jogando a raquete em cima da mesa e rindo. – Cansei, malinha. Amanhã a gente continua jogando.
_Revanche?! – Perguntou ele.
_Ah! Pode ser. – Respondi.
 Andei até Sitael e ele estremeceu.
_O que foi? – Perguntei, preocupada, tocando seu rosto.
 Ele pegou minha mão, e sem dizer uma palavra sequer, me levou para fora da casa. Jogou-me contra a parede, e colocou os dois braços de cada lado, para que eu não tivesse como fugir.
_Ana... Jade. – Ele tremia.
 Estremeci quando ele disse meu nome verdadeiro. Aquilo foi como uma flecha que encontrou meu peito.
_Tome cuidado, pequeno anjo. – Disse ele.
 Ele disse apenas isso, até que percebi, que uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Limpei a lágrima com a minha mão e suavemente, pressionei seu olho para que a outra lágrima não fugisse.
_Sitael, o que foi? – Perguntei.
 Ele virou-se e então, voltou-se para mim. Empurrou-me contra a parede e encaixou seus lábios nos meus. Correspondi. Não havia nada, que eu quisesse no mundo do que tê-lo para mim. Eu só o queria. A morte viria em segundo lugar. Mas ainda sim, isso era tão bom quanto morrer. Eu o amava de uma forma tão complexa, mas esse amor vinha de uma forma tão espontânea... Tão... Simples.
 Eu sentia, não só seus lábios nos meus, mas eu sentia uma conexão entre nós dois. Era uma mistura de felicidade, euforia, amor, paixão, desejo... Pecado! Mas era tão bom, e eu esperava por isso a tanto tempo. Todos os meus desejos mais profundos, foram trazidos a luz. Eu o queria, eu o amava.
 Meus lábios se abriram levemente, e isso era deseperador. Eu o queria mais e mais. Apenas ele.
 Senti algumas lágrimas se formarem em meus olhos e deslizarem pelo meu rosto. Culpa... Maldita culpa! Bem que ela poderia vir depois.
 Larguei-o, ofegante. Ele me olhou, como se aquilo tivesse lhe machucado, mas seu rosto demonstrava felicidade e prazer. Poderia até ser um erro, mas diga-se de passagem, foi um erro bem saboroso. Eu corei, assim que ele me fitou. Então olhei no relógio. Faltavam apenas trinta minutos.
 Olhei para Sitael, e dei-lhe mais um beijo. Um selinho. Apenas isso.
  Disparei a correr. Entrei na mata. Aquele lugar era escuro, sombrio e o silêncio era torturante. Exceto por alguns grilinhos e algumas corujas, fazendo barulho. Corri e a medida que eu corria, as folhas secas se partiam debaixo dos meus pés. Corri, até chegar no meio da mata, encontrei uma árvore linda e aparentemente delicada. Ela era repleta de desenhos, feitos com faca, contra a madeira. Toquei os desenhos e ela se acendeu. O brilho era azul-céu, branco, cristal e vermelho-sangue. Senti que algo prendeu meus pés ao chão, e então peguei o frasco no bolso da minha jaqueta.
 Tirei-o e cheirei seu conteúdo. Estremeci de nojo. Tapei o nariz e bebi seu conteúdo. Quando a última gota desceu pela garganta, eu senti uma dor imensuravel. Aquilo parecia me destruir. Uma dor parecida da que eu senti, quando virei vampira.
 Caí no chão. Eu mal conseguia respirar. Era como se algo não me deixasse respirar. Ofegava, e travava a respiração até que puf! Apaguei. Não sentia mais nada.
 De repente despertei, senti tudo no meu corpo mudar. As costelas pareciam se partir e crescer de novo. Não parava mais.  Até que aquilo tudo passou. Respirei tranquilamente e olhei para os lados. As coisas pareciam ter mudado. O foco da minha visão estava absurdamente excelente. Levantei, só que não da maneira comum. Rolei para o lado e me levantei sob quatro patas. PATAS?! Olhei para baixo e só vi duas patinhas. Pretas e felpudas. Comecei a tentar ver o resto de meu corpo e vi uma calda. Meu Deus! Eu era um lobo agora?
 Disparei a correr. Quis dar um grito, mas tudo que saiu foi um latido. Duro e desesperado.  Corri mais.
 “Quero voltar a ser o que eu era” – Pensei.
 Puf! 
Voltei a ser eu. Não que não fosse naquela hora. Mas era meu corpo “normal”. Sai rolando, ladeira a baixo e quando parei, vi um casaco preto. Daqueles, parecido como do Deus Thanatos. Peguei-o. Vi meus cabelos negros, presos por uma fita vermelha de seda pura. Um vestido preto que ia até os joelhos e deixavam a saboneteira e os calcanhares a mostra, me deixando extremamente envergonhada. Eu nunca mostrava o corpo. Peguei casaco, e coloquei a toca e fui andando até a aldeia. Senti meu antigo cheiro, que era bem adocicádo. Andei  e andei. Exausta e cheguei na aldeia. Olhei em volta e aparentemente estava tudo deserto. Entrei na casa. Dei passos bem leves, para não ser ouvida. Abri a porta de meu novo quarto, bem devagar e entrei. Passei diante do espelho.  Vi que eu estava encharcada de sangue. Tirei o casaco e caí na cama. Os pés sujos de terra, descalços. Não estava nem aí. Deitei e apaguei.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Capítulo 7- Raça

Agora eu estava confusa. Acordei com a cabeça dolorida... Como se alguém tivesse dado uma paulada na minha testa. A dor era desconcertante. A respiração estava ritmada e o coração resolveu dar o ar de sua graça. Meu sangue vivia ali... Parado. As veias inutilizadas. Agora sentia que algo corria alegremente pelas minhas veias. Sangue (Quem sabe). Veneno (claro). 
 Senti a garganta seca. O ar passava de um jeito doloroso, como se fosse agulinhas ali. Sede... Muita sede. A dor persistiu.
 Levantei-me, quase caindo. A sensação de tontura era má, não tinha remorso de me causar enjôo e mais dor de cabeça. Os olhos se reviraram e eu caí em um baque mudo. Pousei a mão com força em um tipo de escrivaninha e me levantei novamente. Tentei organizar os pensamentos, mas era muito conteúdo para uma cabeça só. E diga-se de passagem, era conteúdo que não acabava mais. Levantei-me, abri a porta – uma parte dela -, encostei-me do lado dela e vi que os garotos brincavam. Sitael jogou uma bolinha de papel, que por coincidência – ou não – acertou meu rosto.
 Eles me olharam com surpresa, ou até mesmo susto. Mas a tensão tomou conta do ambiente. Mais do que depressa, eles correram até mim. Tentei andar, mas acabei caindo – quase -, os braços de Sitael me seguraram, antes que meu corpo tocasse o chão.
_Você está bem?! – Perguntou o garoto chamado Kaab. Que aparentava uns... Treze anos de idade.
_A medida do possível. – Respondi com um sorriso brincalhão no rosto. – Hein, vocês nem me chamaram para vir tomar café! Nossa só de birra não vou voltar para o quarto.
 Alguns riram, talvez para me animar. Não me senti confortada o suficiente, mas fiquei feliz de alguém ter rido do deboche sem graça. Muito sem graça!
 Sentei na cadeira, e deixei os músculos relaxar. A conversa continuou, mas agora com a minha inusitada participação. Os risos tomavam conta da cozinha, que deixara ir embora, toda aquela tensão. Até que Kaab começou a me fitar. Eu o encarei, sem desprezo algum. Ao contrário, senti um pouco de afeição pelo moleque.
 Ele andou até mim, e se sentou ao meu lado.
_Ana... – Disse ele, com um tom de voz meio preocupado. – Você está bem mesmo?
_Estou. – Respondi. Baguncei os cabelos castanhos dele. – Fique tranquilo, baixinho.
_Baixinho?! – Ele riu. – Olha quem fala!
_Baixinha não... – Levantei o dedo em um tom moralista, mas o riso interrompia. – Desprovida de uma boa altura.
 Nós rimos.
 Quando já não tínhamos assunto, a tensão tomou conta do ar. Até que Dib, não suportou mais e resolveu falar:
_Gente, não aguento mais. O que foi aquilo ontem?!
_Dib! Cale a boca, seu grande idiota. – Disse Davi com raiva. – Ana ainda não se recuperou, e você já vem falar disso.
_Está tudo bem. – Pousei a mão sob o ombro de Davi. – Aquilo, Dib. Foi uma possessão.
_EU SEI QUE FOI UMA POSSESSÃO. – Ele disse nervoso. – Mas o que eu quero saber, é o por que...
_Talvez eles queiram algo de nós. – Respondi. – Um sacrifício, uma alma... E congêneres.
_O que seriam estes congêneres?
_A abertura do apocalipse. – Respondi.
 Assim que eu disse a palavra apocalipse, todos estremeceram. Jafar folhava a bíblia, e então, foi surpreendido com a mão de Dib, que tirou a bíblia de suas mãos.
_Porra! – Disse Jafar, em protesto. – Pediu?
_Oohh! A moçinha ficou chateada. – Disse ele debochando, fazendo um biquinho e rebolando uma dancinha. No fundo eu queria rir. – A moçinha empresta esta merda?!
_Não é uma merda. – Disse Sitael, sombrio. – É uma bíblia!
_Que seja! – Ele fitou a bíblia. – Dá na mesma.
 Olhei para Sitael, barrando o que ele ia dizer. Sitael se irritou com a lerdeza de Dib, e usou seus poderes para colocar na página certa.
_O apressado come cru! – Disse Dib, irritado.
_E o lerdo come queimado! – Respondeu ele, na mesma altura. – Leia, logo de uma vez.
 Dib engoliu seu orgulho e leu em voz alta, uma parte do apocalipse. Deus que me perdoe, mas desde que eu tinha treze anos de idade, ainda mortal, eu não ia à igreja. Muito menos olhava a bíblia. Aquilo me deixou um pouco irritada.
 A tontura havia passado e a dor de cabeça também. Então, consegui finalmente me levantar.
_Jade! – Chamou-me uma voz de uma pessoa muito velha. – Venha cá, minha boneca.
 Eu pensei: “Sai para lá, macumbeira. Tenho cara de boneco vudú, agora é?!” Só pensei.
 Olhei para trás e vi uma senhora – anciã – que estava segurando um tipo de cajado. Pareciam aquelas videntes Incas.  Fingi que não era comigo e continuei indo em direção ao quarto.
_Não finja que não é com você, criança. – Chamou ela, novamente.
_EU NÃO SOU UMA CRIANÇA! – Protestei, por ela ter dito meu verdadeiro nome. – SOU MAIS VELHA QUE VOCÊ!
 Eu avancei, mas Sitael colocou o braço na minha frente e eu me acalmei.

Capítulo 6 – Lobos (Dedicado a uma grande amiga, chamada: Victória Zanellato Cancellier)

 O silêncio fora quebrado, assim que dei um gemido de dor. Sitael estava ao meu lado, segurando a minha mão.
 Minha visão começou a voltar até alcançar a nitidez perfeita. Comecei a sentir minhas mãos, elas estavam mais vivas. Meu corpo estava dolorido e vivo. Como quando eu era mortal.
 Mas meu coração não batia. A pele continuava pálida, os sentidos mais aguçados. A diferença, é que a cor da aura de Sitael estava mais forte. Estranho... Aquele branco estava diferente, um tom dourado e rosa...  A base da aura estava rosa, um pouco acima dourada e o resto totalmente branco. Não... Não, não, não, por favor, não.
 A aura dele já estava começando a ficar colorida, isso não podia acontecer.
 Um toque-toque na porta, me fez sair dos meus pensamentos. A porta fez um rangido desgraçado e vi a imagem do meu irmão.
_Melhor, irmã? –Disse ele, ajoelhando-se ao meu lado.
_Ahn... – Gemi, coloquei a mão na testa, bem perto do olho, deixando-a limpar o rosto e acordar um pouco. – Acho que estou.
_Sitael, tenho coisas a fazer. – Disse ele, levantando-se. – Cuide dela por mim. Por favor.
_Não precisa nem pedir, Adônis. – Disse Sitael.
 Adônis disparou a correr e pulou a janela. Ouvi seus passos até certo ponto e depois o perdi de meu campo de audição. Sitael, voltou seu olhar para mim.
_Você não está bem... – Disse ele.
_Já disse para não ler minha mente, quando eu não preciso que a leia. – Disse eu, com uma voz estressada.
 Ele passou a mão em meus cabelos negros, e seus dedos deslizaram até meu queixo. Seu rosto se aproximou do meu...  Ele aconchegou-se e seus lábios carnudos, foram até meu pescoço. Estremeci com sua respiração quente, contra minha pele fria.
 Afastei-o de mim, com as mãos ainda fracas.
_Você não pode pecar, seu idiota. – Disse eu.
_Quem disse que eu quero permanecer anjo?! – Disse ele, em um tom meio... Qual é a palavra... Talvez ousado.
_Eu disse e ponto final. – Respondi, com raiva de mim. – Assunto encerrado. Ponto. Hunft!
 Um pouco distante de nós, ouvimos latidos e uivos. Não eram cães, eram... Lobos. O olhar de um deles quebrou a harmonia da escuridão do bosque. Um deles rosnou para mim. Até que o outro latiu e o que rosnou, recuou.
 Um homem, com aparência de... Sei lá, 18 anos. Apareceu, seguido por uns cinco lobos. Ele me fuzilou com o olhar. Os não, lobisomens, não. Logo agora. Olha que eu nem estava procurando confusão.
_Você. – Ele referiu-se a mim. – Vampira. Sejamos pacíficos. Não é de nossa natureza conversar com vampiros, mas precisamos de auxílio.
_Entendo. – Levantei-me, logo recuperada. – Em que podemos ajudar?
_Estamos à procura da chave do apocalipse. – Disse ele. – Precisamos de uma cobertura. Entende?
_Estávamos mesmo precisando de outro lugar, onde nos abrigar. – Respondi.
 “Será que não é uma armadilha?!” – Perguntei mentalmente para Sitael.
 “Pouco provável. Eles estão tensos por conta do seu cheiro. Acho que são confiáveis” – Respondeu ele.
 Fique muito irritada com o comentário do meu cheiro, mas fingi não ouvir.
 Após uma discução interminável, (eu já estava ficando passada com aquilo), determinamos que: Iríamos ajudá-los e eles nos ajudariam.
                                                                                     ***
 Já na aldeia dos lobos, eu fitava o mar, sentada em um pedaço de tronco caído e arrebentado. Eu olhava as conchas que estavam a beira do mar, elas dariam excelentes runas Janárricas. Eu fiquei a refletir. Pensei no filme: “O mestre das armas”.
 Huo Yuanja vivia querendo ser o melhor e mais temido de sua redondeza. Tamanho seu orgulho e seu desejo, que se aprofundou em um mar sem fim. É como a fala do gênio de Aladim: “Seu desejo, é uma ordem.” Mas cuidado com o que deseja. Às vezes, os desejos não são tão bons como parecem.
 Eu deixei que algumas lágrimas caíssem. Não pedi para ser esse monstro. Ser dependente de sangue, e veias absurdamente cheias de vida. Chorei mais. Meu desejo era evoluir, e não parar no tempo e viver a eternidade amaldiçoada. As palavras que me tornariam mortal de novo, seriam: “Eu te liberto.” Mas, jamais ouvi isto. Talvez o meu “sim”, para o homem louro, deva ter sido, o principio para este tormento sem fim.
 Debulhei-me em lágrimas, ao me lembrar de que não havia mais motivos para que eu existisse. Eu era desnecessária.
 Senti que uma mão extremamente quente, tocou meu ombro. Assustei-me e afastei por instinto. As lágrimas foram barradas, e as últimas gotas escorreram por meu rosto. O garoto/lobo me analisou por um momento e disse:
_Houve alguma coisa? – Ele perguntou, preocupado.
_Não houve nada. – Respondi, tentando disfarçar a dor. – Não se preocupe.
_Se está chorando, é por que houve alguma coisa. – Disse ele.
_Por favor, deixe-me sozinha, com meu inferno e pensamentos melancólicos. – Respondi, sem nenhum desprezo na voz. Minha raiva foi essa. Ela saiu tão suave e doce, de um jeito que eu não queria.
 Tentei ir, mas ele segurou meu braço. Tentei me soltar, mas ele não deixou.
_Qual seu nome? – Perguntou ele.
_Ananka.
 Ele estendeu a mão e eu apertei sua mão.
_Chamo-me Davi.
_Prazer em conhecê-lo, Davi. – Assenti.
_Bem-vinda a nossa humilde morada. – Disse ele. Ninguém havia dito isso.
_Já morei em um lugar parecido. – Disse eu, dando um sorriso torto. - Só que lá incluíam bruxarias, feitiços e todo tipo de criatura que se imagina. Menos lobos.
 Ele sorriu da ironia, mas ele percebeu que eu queria esconder o porquê de minhas lágrimas.
_Ananka... Você também usa outro nome, não é? – Perguntou ele. – Pois, as maiorias dos vampiros escondem seus nomes antigos.
_Conheceu outros vampiros? – Perguntei. Droga! Nunca iria dizer meu verdadeiro nome, sem precisar.
_Conheci... Mas foi há muitos anos. – Respondeu ele. – Qual seu verdadeiro nome?
_Nunca direi. – Respondi. – Desculpe.
 Sai a andar e fiquei andando perto do mar. Eu estava com a mão nos bolsos, e os cabelos amarrados em um coque espatifado. A calça jeans toda estourada e os pés descalços.
 Eu estava a admirar tal beleza que a reserva tinha... Era bonita. Do nada vi uma sombra que pulou em cima de mim e eu caí na areia. Sitael ria, por cima de mim.
_Sitael, sai de cima. – Disse eu, tentando não rir.
_Ah! Eu só queria te assustar. – Ele se levantou rindo, me ajudou a levantar.
_Otário. – Disse eu.
 Peguei um punhadinho de areia e joguei nos pés dele. Ele pegou outro punhadinho e jogou no meu pé. Corri para a beira do mar e joguei água nele... Foi assim, até sairmos pingando água salgada.
                                                                                          ***
 Com o corpo seco e a roupa quentinha, fiquei a ver os garotos jogarem basquete. Eu tentava desenhar eles jogando, mas obviamente a movimentação rápida, prejudicava um pouco. Mas não era impossível.
 O mais jovem deles, ficou a me olhar. Parecia ter mais ou menos a minha idade de aparência. Por que é meio óbvio também, que ele não tivesse 100 anos. Nossa! Hoje estou igualzinha ao Google, falando somente coisas óbvias. Irônico, não é?!
_Ana! Venha jogar conosco. – Chamou ele.     
_Eu não jogo muito bem. – Respondi. Também, nasci desprovida de uma altura boa.
_Vem! – Chamou de novo.
 Larguei o lápis e o caderno e andei até eles.  Ficou aquele silêncio...
_Você tem um cheiro muito doce! – Disse um deles.
_É, eu sei. – Respondi. – Parece cheiro de cadáver com rosas.
_Eu não ia dizer isso, mas sou obrigado a concordar. – Ele respondeu, querendo rir.
_Ahn... Bom, está é minha amiga Ananka. – Disse Davi, vendo que aquilo não ia funcionar.
_Vocês são...? – Perguntei.
_Eu sou Dib. Ele é Fuad, Hassan, Jafar e Kaab. – Respondeu o garoto chamado Dib. Ele apontou para um de cada vez.
 Todos os lobos eram apenas garotos. Os chefes dos lobos são apenas como conselheiros ou mandantes. É bem confuso, mas é organizado. Acho... Mas enfim, era o nosso novo lar. Fomos bem recebidos, apesar de meu cheiro não ser muito agradável aos lobos.
  Olhei para Davi, e ele deu um lindo sorriso. Ih! Isso não vai dar certo.
 Sitael veio correndo, e chegou até nós, ofegante. Segurei-o para que não caísse.
_O que houve? – Perguntei, ele conseguiu manter o equilíbrio e soltou-se de mim, apoiando as mãos nos joelhos.
_Uma menina da reserva... – Disse ele. – Ela está possuída. A posseção é tão forte, que nem eu consegui exorcizá-la.
 Apoiei Sitael ao meu lado, e fomos até a tenda onde estava a garota.
 Encarei a tenda por um minuto e avancei tenda adentro. A garota estava amarrada, sob as varas de bambu, onde se formava a cabeceira de uma cama.
_Jade... Há-há-há. Que prazer revela minha cara. – A garota ria... Como ela podia saber meu nome verdadeiro. O nome de quando eu era mortal. – Por que não cumprimenta sua antiga amiga de infância?!
_Aaliath?! – O que houve com ela? – Como... Você virou um demônio.
_Descobriu agora, gênio?! – Disse ela, ironicamente.
_Cale-se criaturinha insignificante. – Disse eu. – Você não é a minha velha amiga Aaliath. Você uma copia extremamente mal feita.
_Como podes dizer isso?! – Gritou ela, com uma voz demoníaca.
_Se és quem você diz, qual era o código que eu e ela usávamos? – Essa era a minha principal arma.
 O silêncio pesou sob nossas cabeças, e ela me fitou com um olhar sombrio. Seus olhos saíram do negro mais fumegante, para o branco mais puro.
_É espertinha demais, para o meu gosto, menininha. – Ela me olhou com uma cara enojada.
_Eis aí, minha vantagem. Eu sou esperta, e você não. – Respondi, dando um riso irônico. – Faça as honras. Quem é você?
_Meu nome, pequeno apocalipse, é Lilith. – Respondeu ela, com uma voz sedosa e aveludada, que mesmo assim, não me deixei enganar. – Eis quem é. O pecado da carne.
_O que você quer? – Perguntei, grosseiramente. – Diga-me, cretina asquerosa.
_Você. – A forma imaterial dela veio até nós, com a intenção de me possuir.
 Mas nossa surpresa, que um tipo de escudo se formou sob nós. Tamanha minha força que consegui transformá-la em um escudo áureo, que nos cobriu. Um branco cristal.
 A tenda começou a balançar, assim como o chão, que estava abaixo de nós estávamos.
_Acquijure te espiritus, nequissimi per Deum onipotentem. – Gritei e sua forma imaterial se desfez diante de nossos olhos.
 Uma luz que pareceu tomar conta de mim, se expandiu, fazendo que os olhos ficassem em um branco cristalino. E uma luz invadiu a sala, que veio de mim. A maioria dos presentes no recinto foi atirada para algum lugar.
 Arruinei minhas forças. O escudo se desfez pouco a pouco, e a luz que veio de dentro de mim, começou a se apagar. Caí no chão, quase lúcida. Vi a imagem de Sitael e alguns garotos lobos correndo até mim. Apaguei.
 A partir daí... O que aconteceu?!
 É uma boa pergunta. E a boa resposta, é: Não faço à mínima ideia.

Capítulo 5 – Entre Romeu e Julieta (Capítulo dedicado ao meu amigo: Fabricio Lamothê de Vegas)

Acordei, levantei rapidamente, arrumei-me e fui para a mesa, para fingir que estava comendo. A sede estava começando a voltar. Mas desde que fiz a Diablerie, não sinto quase nenhuma sede.
 Minha linda cabeçinha estava prestes a ser arrancada pela Camarilla. Ótimo!
 Todos comeram e esperamos a Vã para ir para o colégio. Até que era legal ir de Vã. Você ouvia as porcarias que o pessoal falava e podia curtir um pouco, com músicas e tudo mais. Eu gostava de ficar na janela, em silêncio, tentando adivinhar o que eu poderia ter sido se continuasse humana. Às vezes, queria me matar, por ser tão lamuriosa e não aceitar o que eu realmente sou. Mas eu não queria ser esse monstro. Principalmente agora, que eu não posso nem tentar amar, eu quero negar, mas eu não posso. Não vou negar que eu amo Sitael, por que a verdade, é que eu amo.
_Ana... – Disse Sitael, me tirando dos meus pensamentos. – Vamos. Chegamos.
 Sai da Vã. Entramos no colégio e fui até o meu armário.
_Nos vemos na sala. – Disse ele, e saiu andando.
 Abri o Armário, e uma tulipa vermelha caiu por terra. Estranho. Peguei os livros de literatura, a flor e fui para sala. Sentei e no quadro estava:
“Tema da aula: William Shakespeare.”  
 Que legal! Muito engraçado. Agora eu gostaria de pular nos braços de Sitael e beijá-lo, sem nem sequer pausa para respirar.
 Mas eu tenho alto controle, eu sou uma garota forte. Posso agüentar a tentação.
 Abri meu caderno e comecei a pensar.
_Olá meus amados alunos... – Disse o professor com um sorriso imenso no rosto. – Hoje vamos ver as obras de William Shakespeare. Recapitulando, agora que todos já leram as obras dele, vamos assistir ao filme: “Romeu e Julieta.”
Depois de todos os créditos do início, finalmente começou. Comecei a escrever frases sobre o que eu sentia no meu caderno.
_A morte, que roubou o mel de teu hálito, não teve efeito sob tua beleza. – Disse ele, pegando minha mão. – Irônico, não?!
_Idiota. – Disse eu, rindo.
_O que está escrevendo? – Sussurrou ele, percebendo a atenção do professor sob nós.
 Fechei o caderno o mais rápido possível e joguei na mala, ajeitei-me na cadeira e disse descaradamente:
_Nada.
 Ele balançou a cabeça e continuou a ver o filme. O silêncio começava a ficar estranho, mas não falei nada, mantive as coisas como estavam.
 Queria poder tocá-lo, beijá-lo. Mas ele precisava das suas asas, e não podia se tornar humano. Eu não vou prejudicá-lo, é um sofrimento, que eu estava disposta a aceitar.
 Afinal, em quem ele havia se apaixonado?! O amor pela garota devia ser muito grande, para ele ter caído. E ele ainda a amava. Ok. Vou voltar a ser aquela cretina mal-criada que eu era.
 Debrucei na mesa.
_Está tudo bem, Ana? – Perguntou ele.
_Sim. – Respondi, quase que em um sussurro.
                                                  ***
 No abrigo, eu estava pintando um quadro, quando vi que a tinta preta não estava lá. Sai pela casa e fui até o quarto de Carey.
_Carey?! – Bati na porta.
_Entra. – A sugestionou.
_Está com a minha tinta preta? – Perguntei. – Estou precisando.
 Ela me entregou a tinta e eu agradeci. Fui até meu quarto e voltei a pintar. Resolvi parar um pouco e ir até a varanda tomar um ar. Mas antes, fui escolher um livro. Peguei “Kiki Strike e a cidade das sombras” da autora “Kirsten Miller”. Senti algo vir por trás de mim e por puro reflexo, dei uma cotovelada, que fez quem quer que fosse, voar para o outro lado do meu quarto.
_Aaii!  - Gemeu.
 Droga! Era o Sitael.
 Sai correndo e o ajudei a levantar.
_Des... Rá-rá-rá. Desculpe. – Disse eu.
_Foi culpa minha. – Respondeu ele. – Queria te assustar.
_Como entrou? – Perguntei.
_Escalei a varanda. – Respondeu.
_Nossa. – Eu queria rir. – Romeu e Julieta na veia.
_Pois é. – Respondeu ele.
 Ajudei-o a levantar, e o coloquei sentado em minha cama. Peguei meu kit de primeiro socorros e vi que ele estava com um cortezinho na boca.
 Meu Deus. Daí-me força e juízo para resistir.
 Peguei uma gaze e coloquei um pouco de álcool. Ele estremeceu assim que eu encostei a gaze em seus lábios.
_Desculpe. – Agora eu tinha ficado mau. – Foi o reflexo. Acabei te machucando. Desculpe.
_Não... Tudo bem. – Disse ele, afastando a minha mão de seus lábios. Nossos olhares se encontraram. –Ana...
 Fomos aos aproximamos, até que seus lábios tocaram os meus, levemente, sem sequer tomar conta de meus lábios. Queria beijá-lo. Provar totalmente de seu beijo, mas não.
 Eu jurei a mim mesma.
 Abri os olhos, levantei-me e fiquei de costas para ele.
_Foi mau. Desculpa. – As lágrimas. Malditas lágrimas.
 Saí correndo, sem se quer, ver nada.
 Fui até minha árvore favorita, subi no galho mais alto, e chorei pela minha bela mancada.
_Se você soubesse como eu te amo... – Sussurrei para mim, mesmo sabendo que ele não ouviria. – Não faria eu te desejar mais.
                                                  ***
 No jantar, as meninas foram correndo em disparada a mesa. Uma delas quase me derrubou da escada, mas o bom de ser vampiro é não ser desastrada. Mas em quase tudo, era exceção a regra.
 Depois de chorar igual uma babaca, escondi o verdadeiro sentimento, atrás de um sorriso.
 Por isso tinha de ser explicitamente proibido?! Eu o quero. Mas não posso tê-lo. Mas, dessa vez, eu queria arrancar meu coração. Assim, puf. Eu morreria.
 A vergonha, a raiva e o sentimento de magoa, vagavam em meu coração. Ao invés de ir para mesa de jantar, fui para o meu quarto.
 Abri a porta, entrei, fechei e tranquei-a.
 Sentei na cama, abracei minhas pernas, fiquei totalmente encolhida e comecei a chorar de novo. Minhas lágrimas ultimamente fluíam sem parar. As sombras, que viam de dentro de mim, começavam a se manifestar em meu quarto. Com todo o meu ódio, acabei estourando um vaso, que eu tinha feito há pouco tempo.
 Enrolei-me no cobertor e as lágrimas, molharam bastante o travesseiro.
 Eu me sentia muito culpada. Ele não poderia pecar.
 Mais três vasos, eu urrava de ódio de mim mesma. Por que tinha que ser?! Por que ele me escolheu para ser sua amiga? Por que, eu me sentia tão bem ao ficar perto dele? Mais lágrimas.
 Eu gostava do meu último fio de natureza humana, mas será que era mais fácil ser como os outros?! Mas não, eu não era um monstro como eles. Nunca fui, e jamais serei.
 Não queria dizer que amava Sitael, por que, isso podia ter um efeito ruim. Por isso, não faria nada que o prejudicasse.
 As lágrimas não cessavam. Creio que era mais pelo remorso que eu sentia, de quase tê-lo beijado. Mas pelo menos, vi que era mais forte do que pensava. Essa com certeza eram uma prova de amor imensa. Podia ter provado de seus lábios e o trazê-lo junto a mim, lado a lado com as trevas.
 Mas não, não fiz nada disso. Ao contrário, resisti firmemente o desejo e agora, vi que não pertencia as trevas. Meu lugar, era na luz.
 Peguei o mapa do Elísio dos Assamitas e comecei a estudar. Cada entrada, cada lugar. Se fosse fazer isso, teria de fazê-lo direito. Se eu o amava, o protegeria.
                                             ***
 Estava na árvore, depois que consegui parar de chorar. Sentada em um galho. Apenas pensava na vida.
 Antes, me achava um monstro de corpo e alma. E tudo mudou, quando Sitael se fez presente em meu caminho.
 Sou e serei grata a ele, pelo resto de minha eternidade. Fez-me conhecer o paraíso, descobrir o amor verdadeiro, me conhecer verdadeiramente e uma série de outras coisas boas... E ruins.
 Senti um cheiro doce, parecido com de meu irmão mais novo. Mas era mais doce. Não entendi.
 Adônis não fazia ideia do que eu era agora, e os vampiros, nem se quer, sabiam quem era minha família. Nem se quer de onde eu vinha.
 Senti uma mão fria, tocar em meu ombro. E os lábios, encostarem-se a meus ouvidos.
_Olá, maninha. – Disse.
 Caí da árvore e dei de cara com a lama. Fez um “Splaaaaash.”
 Levantei, tirei um pouco da lama de meu rosto e olhei para cima. Um adolescente belo olhou para mim, com um lindo sorriso.
_Desastrada como sempre, irmã. – Ele sorriu, balançando os pés.
_Adônis?! – O reconheci. Ele tinha crescido tanto.
 Ele pulou da árvore e se postou a minha frente. O abracei, com muita animação. Como era doce o reencontro com meu irmãozinho. A ternura, o reenlace. Tão doce. Dei vários beijos na bochecha e na testa. Ele se afastou, limpando o rosto.
_Nossa. – Disse ele. – Você continua a mesma.
_Você é um vampiro?! – Perguntei, pegando sua mão.
_É. – Disse ele, baixando a cabeça. – Felizmente e infelizmente.
_Mas como?! – Disse eu, assustada. – Quando?! Por quê?!
 Ele pegou pelos ombros e me abraçou.
 Senti algo puxar meu braço e me afastar de meu irmão. Caí no chão, e minhas mãos afundaram na lama. De novo!
_O que você quer vampiro?! – Disse Sitael, de um jeito agressivo que nunca vi.
_Qual é?! Está a querer briga? Ahn. – Adônis intimou Sitael.
 Puxei o braço de Sitael. E ele me olhou de um jeito estranho.
_Ele é meu irmão. – Me coloquei no meio dos dois. – Calma. Ele não ira me ferir.
 Adônis me colocou atrás dele, como quem protege, acima de tudo.
_Não encoste um dedo em minha irmã, seu anjo sujo. – Disse ele. – Acha que não sei que você observava minha irmã, quando ela era mortal? Que você não a matou, por que queria que ela correspondesse seu amor?! Hã?!
 Olhei para Sitael e Adônis entendeu o olhar de Sitael. O silêncio se propagou por alguns segundos. Sitael corou em segundos e meu coração pulsou.
 Aquilo me fez cair no chão, e o sangue da Diablerie correu em minhas veias secas, velhas e inutilizadas.
 Sitael me pegou no chão, desesperado. Adônis colocou um dos dedos em meu pescoço e percebeu. Minha besta estava sendo controlada.

Capítulo 4 – O plano perfeito

Depois de toda aquela luta dos Tremere, em que eu subi duas gerações, por fazer a Diablerie.
 Lutei com o sono, ouvindo: “Eyes on Fire” do “Blue Foudation”. Até que finalmente consegui “dormir”. Um sono forçado. Eu ainda estava lúcida, nem havia colocado um pé para fora do meu corpo.
 Comecei a ouvir risadas passando por trás de mim. Afundei a cabeça no travesseiro, com medo. Por mais que eu pertencesse às trevas, eu tinha medo do que eu não podia controlar. A risada chegou mais perto. Fechei os olhos e fingi que não ouvia. O terror me subiu dos pés a cabeça. De repente senti um peso em cima de mim. Parecia um corpo. Abaixou-se até meus ouvidos e deu um grito abafado. Como se alguém não deixasse gritar.
 Sitael apareceu, abriu a porta correndo. Pegou-me e me enlaçou em seus braços, e como um escudo, senti que algo bateu contra nós. Se não fosse pelo escudo angelical de Sitael, seria algo pior.
_Você está bem?! – Disse ele, colocando as duas mãos em meu rosto e obrigando-me a olhar em seu rosto, retribuindo com o olhar suplicante.
_Acho que estou... O que era aquilo?! – Perguntei. – Nem se quer abri meus olhos. Não vi o que era...
 Ele me abraçou, seu coração batia desesperadamente, pelo susto do ocorrido momentos antes.
                                             ***
 Aquilo tudo que estava acontecendo, estava mexendo... Revirando os arquivos da minha cabeça. Ok. Meus pensamentos.
 Era tudo muito fora, do meu campo de visão. Eu sabia muita coisa, mas eu era apenas uma vampira, que até pouco tempo, não sabia que era uma Nefilim. Uma vida super divertida.
 Zarah e Sitael foram visitar meu quarto e pegar alguns livros para suas pesquisas. Minha micro biblioteca - que ficava no meu armário – estava sendo muito visitada por nós três ultimamente.
 Lá fora, uma forte tempestade impôs as pessoas que fossem para suas casas, por que o parque este fim de semana... Sem chances! O frio predominava, e anunciava a chegada do inverno. Minha estação favorita.
 Agora eu sabia que precisava de uma defesa e de um ataque bem mais poderosos. Hm... Vamos pensar. Eu já tinha quebrado dois dos dez mandamentos. “Não matarás” (Nada a declarar). “Não furtarás” (Sobre isso também não). Voltando a arma... Uma espada seria perfeita.
 Uma das vezes de quando desapareci, Zarah me levou ao clã dos Assamitas – um bando de assassinos, se passando por rebelde – e vi a espada dos Deuses não mortos. Usada apenas e ocasiões extremamente especiais. Cobiçada por muitos pertencentes à Camarilla e do Sabbat e essa poderia ser uma defesa muito boa, para mim e para Sitael.
 Levantei e fui até a janela, fiquei olhando o bosque que cercava o abrigo. Era bonito. Eu ajudava a cuidar, quando eu queria. Plantei minhas flores favoritas: Tulipas vermelhas e amarelas, girassóis e rosas brancas e vermelhas.
 Elas cresceram bastante, mas suas pétalas já começavam a cair. Eu via semelhanças entre eu e elas. Já fomos belas e cheias de vida, e no auge de suas vidas, o inverno chega, nos destruindo pouco a pouco. Só que eu, fiquei presa a este corpo de cadáver. Eu sentia, eu chorava, eu dormia... Mas não era mais humana.
 Evoluir... Sem chances. Envelhecer, fazer aniversário, casar, ter filhos, envelhecer... Morrer.  Mas aquele homem me transformou em um monstro. Um monstro que bebe sangue. Minha alma vagava entre luz e sombra.
 E a luz se tornou atraente para mim. Sitael. Tinha se tornado tão importante para mim.
 Não, não posso. Balancei a cabeça, na tentativa de negar. Mas eu sabia que era idiotice evitar. Eu havia me apaixonado por Sitael e definitivamente, está seria a pior mancada da minha vida. Mas eu não ia mentir para mim, aceitei o amor que sinto por ele, mas resolvi mantê-lo em segredo, por mais que eu sofra, será melhor.
 Fui até a estante e peguei um livro, sem sequer ver o título. Abri e lá estava escrito:
Perguntei…
Perguntei a um sábio,
a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele disse-me esta verdade…
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira.
Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.

Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração.
 William Shakespeare.
  Respirei fundo, e dei um soco na minha cama. Mas que merda... Eu tentando esquecer o meu amor, e o livro vem me lembrar. Depois dessa, eu queria ser humana e me matar.
 Minha situação estava uma droga...
                                                 ***
 Depois de eu e Zarah, termos virado a noite para mapear a sede do Elísio dos Assamitas, para poder roubar a espada dos Deuses não mortos.  Acordamos Sitael que estava debruçado na mesa, dormindo.
_Quem vai pegar a espada? – Disse Zarah.
 Os dois se voltaram para mim.
_Esqueçam. – Neguei fazendo gestos com a mão. – Sem chances! A Camarilla, a esta altura, deve estar querendo minha cabeça.
_Você tem a Vicissitude. – Disse ela. – Isso iria ajudar, e muito. A maioria ia se derreter...
 A fuzilei com o olhar e captei o pensamento mais obseno da mente de Zarah. “Vai... Você ainda é virgem, experimenta” – Pensou ela com um sorriso malicioso no rosto. Sitael me olhou com uma cara... Eu entendi. Trasar estava fora de cogitação, mas matar ia ser bem divertido.
_Então... – Disse ela, ainda sorrindo.
_Trasar está fora de cogitação. – Ela fechou a cara. – Mas... Matar seria divertido.
 Sitael baixou a cabeça, e suspirou aliviado. Ele achou mesmo que eu toparia?! Nem morta... Hunft!
 Enquanto a noite caia, o sono me levava junto. Em seu macio véu, com seus magníficos encantos. Junto com o doce sonho, que o embalava.
 Muito cansada, subi para o meu quarto. Dormi e sonhei com o dia do meu nascimento humano. Vieram-me várias informações na cabeça...
_Victória – Canadá... – Dizia uma voz em meu sonho. – Butchart garden. Flores. Casa. Adônis. Asas. Anjo. Graça. Nefilim. Zarah. Lilith.
 Despertei com um grito. E comecei a me debater na cama.
 Algumas crianças entraram correndo no meu quarto para ver o que era, e Sitael foi encontrando brechas para descobrir o que estava a se passar. Correu até mim e ficou do meu lado.
_Foi um pesadelo, só isso gente. – Disse a eles. – Desculpe.
 Dei um beijo e um abraço em cada um deles e voltei para cama. Sitael anciosamente esperava que eu dissesse algo. Não era necessário ler mentes, apenas saber interpretar sentimentos. Mas só a expreção dele, já me dizia.
 Ele estendeu os braços, e meu joguei contra seu corpo, o enlaçando em um abraço. Senti o cheiro de Sitael, era tão atrativo. Irresístivel. Se isso acontecesse em meus primeiros passos certos para as trevas, eu o teria matado. Mas agora, eu não precisava disso. Não mais.
_Calma. – Disse ele suavemente. – Diga-me o que houve.
_Um sonho... – Respondi colocando a mão no rosto. – Um sonho muito estranho. Real demais. Vivo demais.
_O que dizia? – Perguntou ele.
_Algo a ver, com todos. Como uma rede invisível. – Entrelassei meus dedos para simular a união. – Dizia nomes. Butchart garden...
 Epa... Graça, asas, Butchart garden, nefilim… As asas de Sitael, e de quebra a graça dele.
_Acho que sei onde podemos achar sua graça. – Respondi. – Assim, vai poder recuperar suas asas.
_Nossa... Ana... – Ele foi chegando muito perto. – Não sei como agradecer...
“Resista! Você é forte. Você consegue.” – Pensei.
 Afastei-me.
_Hora de dormir, que amanhã temos aula! – Disse eu.  –Boa...
 Mas ele já tinha ido. Sussurrei boa noite para ele, mesmo sabendo que ele não ouviria, mas me sentia melhor assim. Comecei a cantar para mim mesma, a música “Salve Regina” e adormeci.

Capítulos 3 – Tremere (Para minha amiga mais curiosa: Maria Eduarda)

 Depois daquela briga, fizemos as pazes e por fim ficamos kits.  Os meus dons, desde que fui ao mundo intermediário, começaram a se revelar. Minha leitura de mente melhorou muito. As vozes ficavam mais nítidas. Eu podia projetar imagens na mente das pessoas, ver auras e mover as coisas somente com o poder da minha mente. Sitael me ajudou, e muito na descoberta deles, e ele me ajudou a treinar. E eu, o ajudava a na tentativa de encontrar focos de possessões e possíveis Nefilins.
 Nunca fui muito sanguinária, e nem me deixava levar pelos prazeres sexuais oferecidos naquela época. Tanto é que morri virgem e continuo virgem.
 Os Nefilins eram famosos por serem piores que os demônios. Eram sanguinários e muito fortes. Eles não conheciam o amor, apenas o ódio. E algumas vezes, tinham seus corpos invadidos por anjos caídos. E isso os deixava mais revoltados. Não sentiam culpa de matar, estuprar ou qualquer coisa que consideramos repugnantes.
 Eu era uma Nefilim totalmente diferente. Sentia culpa de matar ou fazer algo parecido. Afastava-me para não fazer mal a ninguém e meu coração se sentia bem ao ajudar. Meu perfume exala o doce aroma da morte, e meus lábios, venenos doces e prazerosos. Mas eu amava o último fio da minha natureza humana. Isso é o que me tornava diferente. Hipoteticamente falando, eu ainda tinha um coração.
                                                ***
 Não conseguia dormir de jeito nenhum. Virava para um lado, virava para o outro. A cada segundo, eu sentia um cheiro doce se aproximar. Parecia cheiro de incenso de pó de estrela. A única vez que senti aquele cheiro, foi quando o veneno Toreador, começava a correr nas minhas veias.  A última coisa que eu ouvi, foi que eu seria o presente do príncipe do clã Tremere. Até que uma menininha, que aparentava ter nove anos, me ajudou a escapar e a me virar. Seu nome era Zarah.
 Há muitos anos eu não a via.
 As sombras do meu passado vieram me assombrar.
                                                   ***
 Em 1925, eu passava perto de um beco, enquanto dois idiotas mais ou menos da minha idade brigavam.  Eu olhei assustada, e então saí correndo.
 Eles correram atrás de mim e me encherão de bordoadas. Dizendo que eu poderia contar para alguém. Eles estavam fedendo a maconha ou qualquer tipo de droga. Quando foram embora, eu mal podia me mover, via o sangue escorrendo, quando um bando de pessoas rápidas demais, aparecerão.
 Um deles, extremamente belo, me recolheu do chão. O sangue escorreu pela minha boca. Ele passou aquelas mãos frias em meu rosto. Estremeci.
_Tão linda... – Disse ele, me olhando. – Tão jovem...
 Ele se aproximou de mim, como se estivesse me cheirando – e acredite, ele estava.
_Você quer uma vida?! Uma vida de prazeres, onde a morte e a doença jamais se aproximaram de você. – Sussurrou ele. –Mas a pergunta é você viria comigo?!
_Sim. – Respondi com o sangue já trancando minha garganta.
_Isso irá doer um pouco, minha querida. – Disse ele.
 Sem vacilar, cravou os caninos em meu pescoço. Senti meu sangue ser arrancado de meu corpo. Então vi que ele cortou o pulso e encaixou em minha boca. O sangue dele era gostoso. Algo saboroso, mais gostoso que chocolate. E me deixava forte.
 Eu não conseguia parar, até que ele tirou com toda força seu pulso de meus lábios. E então dor. Meu coração parava de funcionar, e como se cada célula de meu corpo se tornasse um espinho. Tudo se apagou e em alguns segundo, meus ossos ficassem mais fortes, meu cérebro trabalhasse melhor... Mas minha garganta, estava seca. Totalmente seca.
 Eles me entregaram uma mulher desacordada e drogada. Alimentei-me dela, e o seu sangue, corriam na minha veia mais doce que a vida.
 Depois, adormeci. Quando acordei, estava com os pulsos acorrentados, sendo levada para algum lugar. Então ouvi a mente de um deles. Ele dizia quem eu seria a oferta de paz aos Tremere, e aí foi que Zarah me salvou.
 Levou-me para um lar de crianças abandonadas, até eu me virar sozinha.
 E hoje sou o que sou.
 Zarah me ensinou como o veneno funcionava, como atacar, porque não beber o sangue quando o coração parava.
 Agora, eu estava sozinha. A não ser Sitael, que em pouco tempo, tornou-se meu porto seguro. Um grande amigo. Ele me ajudava e eu o ajudava. Era uma troca. Nada por obrigação, não mais, agora era por pura amizade. Ou até algo mais.
 Alguém bateu em minha porta.
_Ana... – Disse Sitael. – Posso entrar?!
_Pode. – Disse bem baixo.
 Ele entrou e se sentou ao pé da minha cama.
_Por que está pensando tanto em seu passado?! – Perguntou ele.
_Eu nasci do clã Toreador, e então, desde que parei de dançar, cantar, desenhar e tudo mais, minha única virtude é pensar. – Respondi de cabeça baixa. – Eu não tenho a fraqueza deles, mas eu vivo a imaginar como seria bom ficar no clã dos Toreadores. Eles são como eu. Amam sua parte humana. Pois é o que os mantém de certa forma, coisas boas.
_Entendo. – Respondeu ele. – Sente falta de ser “humana”.
_Sim. – Respondi. – Eu acho que eu era feliz. Eu queria, sei lá, envelhecer, casar, ter filhos, netos, e morrer definitivamente. Mas ao contrário, aquele vampiro, de certa forma me salvou.
_Acho que quando nos conhecemos, te julguei, sem conhecer como você realmente é. – Disse ele. – Os anjos vingadores, como eu, diziam que os seres das trevas, todos, eram infiéis, indóceis e cruéis. Achei que você fosse assim, mas me enganei.
_Sitael... Você nunca me contou direito por que você caiu, como era o céu... – Disse eu. – Conte-me.
_Ok. Eu era um Serafin. A primeira ordem dos anjos. Éramos criados, para amar e sermos fiéis somente a Deus e a mais ninguém. – Ele se levantou e começou a andar pelo meu quarto. – Até que um dia, quis ver o mundo, além de meu protegido, quis ver como era.  Comecei a voar e a olhar o que as pessoas faziam. Até que vi uma menina, de quinze anos, aparentemente. Assim que há vi, percebi que era um Nefilim. E a ordem para todos os anjos era a mesma: “Assim que encontrar um Nefilim mate-o.”
“Ela era tão jovem, tão cheia de vida... Mas não era como os outros. Não tinha aura negra, e sim dourada. Raríssima de achar. Ela adorava ajudar. Aqueles cabelos negros como o véu da noite. Olhinhos castanhos que brilhavam o tempo todo. Pele branquinha, com as bochechas rosadas.”
“Éramos proibidos de sentir qualquer emoção humana. Mas ali, naquela hora, eu senti algo muito humano. O amor. Tão doce, tão bom, tão encantador.
 Assim que voltei para o céu, os anjos vingadores arrancaram minhas asas, e disseram que eu só as teria de volta se matasse dois Nefilins. Então, quando caí, resolvi ir para todos os colégios possíveis, para encontrar algum Nefilim, até... Não desejar ver sangue.”
_Nossa... Mas o que aconteceu com a garota?! – Perguntei. Eu tinha mais ou menos a aparência dela. Mas não era comigo. – Ela ainda está viva?!
_De certa forma. – Respondeu ele.  – Vamos parar por aqui. Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente.
_Gosta tanto assim de William Shakespeare? – Perguntei, deixando aparecer um sorriso.
_Sim. – Respondeu. – Ele me ensinou a sentir e a pensar.
                                                ***
 No meio da madrugada, umas duas horas depois que Sitael foi dormir, o cheiro doce se tornou conhecido. Zarah.
 Em menos de um minuto, minha janela se abriu e ela estava de pé, bem ali.
_Zarah! – Levantei e corri até ela, e ela me abraçou. – Há quantos anos, minha amiga.
_Ana, precisa ir embora. Logo. – Disse ela, com aquela voz doce de menininha que ela tinha.  – Vá e leve seu amigo, para bem longe. Agora.
_Por quê?! – Perguntei confusa, segurando seus ombros.
_Os Tremere. Lembrem-se, eles se comparam aos satanistas. – Respondeu ela, com a aflição entregue em seus olhos.
_O que eles querem?! – Perguntei.
_Corra! – Disse ela. – Eles vão chegar aqui em cinco minutos, ou menos. Eles querem seu amigo.
 Peguei meu casaco e coloquei minha calça e saí correndo até o quarto de Sitael. Tirei-o da cama e saímos correndo, só conseguimos ir até a escada.
_Tarde demais! – Eu e Zarah dissemos juntas.
 Eu e ela nos entreolhamos e decidimos ir para fora, já que não queríamos destruir o abrigo.  Eu e Zarah pulamos a janela, enquanto Sitael saia pelos fundos.
 Vimos três homens, que só de ver sua imagem, eu estremeci. Eu os vi, quando havia completado trinta anos. Eles eram: Os líderes dos Tremere.  Andamos até ele. A chuva havia deixado a calçada escorregadia e a lama do jardim, afundava debaixo de nossos pés, assim que encontravam o peso de nossos corpos.  Sitael ficou atrás de mim, provavelmente deve ter lido minha mente.
 Os três se posicionaram estrategicamente há nossa frente. Aquele silêncio perturbador durou por um minuto. O que nos dava tempo suficiente para estudar o oponente.
_Zarah... Traindo a Camarilla de novo? – Disse um deles, sorrindo falsamente.
_Acho melhor segurar a língua, meu querido Erikiel. – Disse Zarah. – Desculpe lembrar, que eu e minha amiga Ananka, somos Caines e eu sou Ante-diluviana . Então, creio que seja melhor você ir embora.
_Acho que não temos medo de Caines. – Um deles já desejou pular em cima de nós. Avançou dois passos até que Erikiel colocou o braço a sua frente.
_Louis. – Disse Erikiel, barrando a atitude do tal Louis. – Não sejamos precipitados. Só temos esses avatares.
_O que vocês querem?! – Perguntei, com o máximo de raiva possível.
_Seu amigo anjo. – Disse Erikiel, estendendo a mão. – Os anciãos nos mandaram levá-lo e dar um fim digno de um Sabbat. Um fim, relativamente indolor. Irá entregá-lo, pacificamente?!
_Lamento, mas a resposta que esperam não virá. – Respondi. Levantei a cabeça e cruzei os braços.
 Na linguagem corporal, isso iria significar: Cabeça levantada: Sou superior a você. Braços cruzados: Protejo-me, não quero ser atingida.
_Então, partiremos para o plano “B”. – Disse um deles para Erikiel.
 Louis e o outro vieram para cima de mim. Usei meus novos poderes. Pulei o mais alto que pude, estendi a mão aberta e gritei: “Escudo”.
 Os dois foram atirados a alguns sete metros de distância. O que me dava vantagens de uns cinco segundos.  Sitael correu até uma árvore e começou a rezar. Preparei-me para ser atingida ou de até mesmo, perder meu braço. Mas se isso protegeria Sitael, estava tudo bem. Louis veio em um salto para cima de mim, assim como eu previ. Com meu braço, rebati-o fazendo ir de costas, ao encontro de uma árvore. Três minutos de vantagem. O outro veio correndo, abaixado, para pegar mais velocidade. Eu dei um murro na papada dele e ele voou em na direção em que estava. Mais três minutos. Zarah estava se dando bem... Então, esperei o ataque na defensiva.
_Por que uma vampira tão sexy como você, está protegendo um anjo celestial?! – Perguntou ele, balançando a cabeça negativamente. – Mas você não é a única que tem poderes.
 Uma luz roxa saiu de sua mão, quase me acertando. Girei meu corpo, no eixo de 360º. E o feitiço, resvalou na minha costela. Rasgando apenas minha blusa.
_Que feio! – Disse eu, balançando a cabeça com indiferença. – Minha blusa favorita.
 Criei a imagem de que o chão se partia e várias luzes invadiam seu campo de visão.  Ele se contorcia.
_Pietro... – Disse Louis, estendendo a mão. – É só uma ilusão.
_Ainda não morreu?! – Disse eu, a Louis.
 Andei até ele, levantei-o e com meus poderes, comecei a quebrar seus ossos. Ele usou um dom, que fazia os ossos de seu oponente pegaram fogo. Senti a brasa tomando conta de mim. Gritei.
 Ele segurou seu braço ferido, e mancava.
_A dor lhe é agradável?! – Disse ele rindo.
_Não será a você também. – Disse eu, lançando-lhe um olhar sombrio.
 Pulei contra ele, derrubei-o no chão, subi por cima de seu corpo e mordi seu pescoço. Sangue. Aquele saboroso sangue vampiresco com sabor de chocolate. Não pude evitar e bebi seu sangue até que o outro vampiro me chutou para o lado, defendendo o amigo.
_Você matou meu irmão. – Gritou ele, ao lado do corpo que já se transformava em pó.
 Revoltado veio para cima de mim. Com toda sua força me defendi. Ele tentou morder meu pescoço. Defendi-me, empurrando-o a uns três metros. Vi que Zarah conseguiu dar um fim em Erikiel.
 O vampiro veio para cima de mim e então mordi seu pescoço. A não... Não consegui parar. Aquele sabor de chocolate encheu minha boca e desceu doce pela minha garganta. Mas doce que o próprio veneno que habitava em minha boca.
 Zarah me puxou, fazendo que meus lábios parassem, e que a Besta saísse do controle. Dei-me conta do que tinha feito. Cai sentada. Sitael estava logo ao lado de Zarah.
_Por que... Por que você fez isso? – Não sabia como responder. Olhei o tamanho do meu erro. – Você já era uma Caine. Você será caçada até a morte pela Camarilla.
_Eu agora sou da segunda geração. – Olhei para ela, com o olhar suplicante de “me desperte desse pesadelo”.
_Você também sugou a alma?! – Perguntou ela, boquiaberta.
_Sim.
 Ela começou a andar de um lado para o outro, me levantei e respirei fundo e tentei reorganizar os pensamentos. Eu matei dois Tremere, um da primeira e outro da segunda geração. Eu estava na quarta, suguei seu sangue e sua alma. Subi duas estacas. Isso era um ato condenado pela Camarilla. Não controlei minha besta.
 Cai de joelhos e comecei a chorar de desespero. Zarah me levantou e deu um abraço. “Vai ficar tudo bem... Vai ficar tudo bem!”- Pensou ela, suavemente para que eu ouvisse.
 Sitael ficou de cabeça baixa, pensativo.