quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Capítulo 7- Raça

Agora eu estava confusa. Acordei com a cabeça dolorida... Como se alguém tivesse dado uma paulada na minha testa. A dor era desconcertante. A respiração estava ritmada e o coração resolveu dar o ar de sua graça. Meu sangue vivia ali... Parado. As veias inutilizadas. Agora sentia que algo corria alegremente pelas minhas veias. Sangue (Quem sabe). Veneno (claro). 
 Senti a garganta seca. O ar passava de um jeito doloroso, como se fosse agulinhas ali. Sede... Muita sede. A dor persistiu.
 Levantei-me, quase caindo. A sensação de tontura era má, não tinha remorso de me causar enjôo e mais dor de cabeça. Os olhos se reviraram e eu caí em um baque mudo. Pousei a mão com força em um tipo de escrivaninha e me levantei novamente. Tentei organizar os pensamentos, mas era muito conteúdo para uma cabeça só. E diga-se de passagem, era conteúdo que não acabava mais. Levantei-me, abri a porta – uma parte dela -, encostei-me do lado dela e vi que os garotos brincavam. Sitael jogou uma bolinha de papel, que por coincidência – ou não – acertou meu rosto.
 Eles me olharam com surpresa, ou até mesmo susto. Mas a tensão tomou conta do ambiente. Mais do que depressa, eles correram até mim. Tentei andar, mas acabei caindo – quase -, os braços de Sitael me seguraram, antes que meu corpo tocasse o chão.
_Você está bem?! – Perguntou o garoto chamado Kaab. Que aparentava uns... Treze anos de idade.
_A medida do possível. – Respondi com um sorriso brincalhão no rosto. – Hein, vocês nem me chamaram para vir tomar café! Nossa só de birra não vou voltar para o quarto.
 Alguns riram, talvez para me animar. Não me senti confortada o suficiente, mas fiquei feliz de alguém ter rido do deboche sem graça. Muito sem graça!
 Sentei na cadeira, e deixei os músculos relaxar. A conversa continuou, mas agora com a minha inusitada participação. Os risos tomavam conta da cozinha, que deixara ir embora, toda aquela tensão. Até que Kaab começou a me fitar. Eu o encarei, sem desprezo algum. Ao contrário, senti um pouco de afeição pelo moleque.
 Ele andou até mim, e se sentou ao meu lado.
_Ana... – Disse ele, com um tom de voz meio preocupado. – Você está bem mesmo?
_Estou. – Respondi. Baguncei os cabelos castanhos dele. – Fique tranquilo, baixinho.
_Baixinho?! – Ele riu. – Olha quem fala!
_Baixinha não... – Levantei o dedo em um tom moralista, mas o riso interrompia. – Desprovida de uma boa altura.
 Nós rimos.
 Quando já não tínhamos assunto, a tensão tomou conta do ar. Até que Dib, não suportou mais e resolveu falar:
_Gente, não aguento mais. O que foi aquilo ontem?!
_Dib! Cale a boca, seu grande idiota. – Disse Davi com raiva. – Ana ainda não se recuperou, e você já vem falar disso.
_Está tudo bem. – Pousei a mão sob o ombro de Davi. – Aquilo, Dib. Foi uma possessão.
_EU SEI QUE FOI UMA POSSESSÃO. – Ele disse nervoso. – Mas o que eu quero saber, é o por que...
_Talvez eles queiram algo de nós. – Respondi. – Um sacrifício, uma alma... E congêneres.
_O que seriam estes congêneres?
_A abertura do apocalipse. – Respondi.
 Assim que eu disse a palavra apocalipse, todos estremeceram. Jafar folhava a bíblia, e então, foi surpreendido com a mão de Dib, que tirou a bíblia de suas mãos.
_Porra! – Disse Jafar, em protesto. – Pediu?
_Oohh! A moçinha ficou chateada. – Disse ele debochando, fazendo um biquinho e rebolando uma dancinha. No fundo eu queria rir. – A moçinha empresta esta merda?!
_Não é uma merda. – Disse Sitael, sombrio. – É uma bíblia!
_Que seja! – Ele fitou a bíblia. – Dá na mesma.
 Olhei para Sitael, barrando o que ele ia dizer. Sitael se irritou com a lerdeza de Dib, e usou seus poderes para colocar na página certa.
_O apressado come cru! – Disse Dib, irritado.
_E o lerdo come queimado! – Respondeu ele, na mesma altura. – Leia, logo de uma vez.
 Dib engoliu seu orgulho e leu em voz alta, uma parte do apocalipse. Deus que me perdoe, mas desde que eu tinha treze anos de idade, ainda mortal, eu não ia à igreja. Muito menos olhava a bíblia. Aquilo me deixou um pouco irritada.
 A tontura havia passado e a dor de cabeça também. Então, consegui finalmente me levantar.
_Jade! – Chamou-me uma voz de uma pessoa muito velha. – Venha cá, minha boneca.
 Eu pensei: “Sai para lá, macumbeira. Tenho cara de boneco vudú, agora é?!” Só pensei.
 Olhei para trás e vi uma senhora – anciã – que estava segurando um tipo de cajado. Pareciam aquelas videntes Incas.  Fingi que não era comigo e continuei indo em direção ao quarto.
_Não finja que não é com você, criança. – Chamou ela, novamente.
_EU NÃO SOU UMA CRIANÇA! – Protestei, por ela ter dito meu verdadeiro nome. – SOU MAIS VELHA QUE VOCÊ!
 Eu avancei, mas Sitael colocou o braço na minha frente e eu me acalmei.

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