quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Capítulo 5 – Entre Romeu e Julieta (Capítulo dedicado ao meu amigo: Fabricio Lamothê de Vegas)

Acordei, levantei rapidamente, arrumei-me e fui para a mesa, para fingir que estava comendo. A sede estava começando a voltar. Mas desde que fiz a Diablerie, não sinto quase nenhuma sede.
 Minha linda cabeçinha estava prestes a ser arrancada pela Camarilla. Ótimo!
 Todos comeram e esperamos a Vã para ir para o colégio. Até que era legal ir de Vã. Você ouvia as porcarias que o pessoal falava e podia curtir um pouco, com músicas e tudo mais. Eu gostava de ficar na janela, em silêncio, tentando adivinhar o que eu poderia ter sido se continuasse humana. Às vezes, queria me matar, por ser tão lamuriosa e não aceitar o que eu realmente sou. Mas eu não queria ser esse monstro. Principalmente agora, que eu não posso nem tentar amar, eu quero negar, mas eu não posso. Não vou negar que eu amo Sitael, por que a verdade, é que eu amo.
_Ana... – Disse Sitael, me tirando dos meus pensamentos. – Vamos. Chegamos.
 Sai da Vã. Entramos no colégio e fui até o meu armário.
_Nos vemos na sala. – Disse ele, e saiu andando.
 Abri o Armário, e uma tulipa vermelha caiu por terra. Estranho. Peguei os livros de literatura, a flor e fui para sala. Sentei e no quadro estava:
“Tema da aula: William Shakespeare.”  
 Que legal! Muito engraçado. Agora eu gostaria de pular nos braços de Sitael e beijá-lo, sem nem sequer pausa para respirar.
 Mas eu tenho alto controle, eu sou uma garota forte. Posso agüentar a tentação.
 Abri meu caderno e comecei a pensar.
_Olá meus amados alunos... – Disse o professor com um sorriso imenso no rosto. – Hoje vamos ver as obras de William Shakespeare. Recapitulando, agora que todos já leram as obras dele, vamos assistir ao filme: “Romeu e Julieta.”
Depois de todos os créditos do início, finalmente começou. Comecei a escrever frases sobre o que eu sentia no meu caderno.
_A morte, que roubou o mel de teu hálito, não teve efeito sob tua beleza. – Disse ele, pegando minha mão. – Irônico, não?!
_Idiota. – Disse eu, rindo.
_O que está escrevendo? – Sussurrou ele, percebendo a atenção do professor sob nós.
 Fechei o caderno o mais rápido possível e joguei na mala, ajeitei-me na cadeira e disse descaradamente:
_Nada.
 Ele balançou a cabeça e continuou a ver o filme. O silêncio começava a ficar estranho, mas não falei nada, mantive as coisas como estavam.
 Queria poder tocá-lo, beijá-lo. Mas ele precisava das suas asas, e não podia se tornar humano. Eu não vou prejudicá-lo, é um sofrimento, que eu estava disposta a aceitar.
 Afinal, em quem ele havia se apaixonado?! O amor pela garota devia ser muito grande, para ele ter caído. E ele ainda a amava. Ok. Vou voltar a ser aquela cretina mal-criada que eu era.
 Debrucei na mesa.
_Está tudo bem, Ana? – Perguntou ele.
_Sim. – Respondi, quase que em um sussurro.
                                                  ***
 No abrigo, eu estava pintando um quadro, quando vi que a tinta preta não estava lá. Sai pela casa e fui até o quarto de Carey.
_Carey?! – Bati na porta.
_Entra. – A sugestionou.
_Está com a minha tinta preta? – Perguntei. – Estou precisando.
 Ela me entregou a tinta e eu agradeci. Fui até meu quarto e voltei a pintar. Resolvi parar um pouco e ir até a varanda tomar um ar. Mas antes, fui escolher um livro. Peguei “Kiki Strike e a cidade das sombras” da autora “Kirsten Miller”. Senti algo vir por trás de mim e por puro reflexo, dei uma cotovelada, que fez quem quer que fosse, voar para o outro lado do meu quarto.
_Aaii!  - Gemeu.
 Droga! Era o Sitael.
 Sai correndo e o ajudei a levantar.
_Des... Rá-rá-rá. Desculpe. – Disse eu.
_Foi culpa minha. – Respondeu ele. – Queria te assustar.
_Como entrou? – Perguntei.
_Escalei a varanda. – Respondeu.
_Nossa. – Eu queria rir. – Romeu e Julieta na veia.
_Pois é. – Respondeu ele.
 Ajudei-o a levantar, e o coloquei sentado em minha cama. Peguei meu kit de primeiro socorros e vi que ele estava com um cortezinho na boca.
 Meu Deus. Daí-me força e juízo para resistir.
 Peguei uma gaze e coloquei um pouco de álcool. Ele estremeceu assim que eu encostei a gaze em seus lábios.
_Desculpe. – Agora eu tinha ficado mau. – Foi o reflexo. Acabei te machucando. Desculpe.
_Não... Tudo bem. – Disse ele, afastando a minha mão de seus lábios. Nossos olhares se encontraram. –Ana...
 Fomos aos aproximamos, até que seus lábios tocaram os meus, levemente, sem sequer tomar conta de meus lábios. Queria beijá-lo. Provar totalmente de seu beijo, mas não.
 Eu jurei a mim mesma.
 Abri os olhos, levantei-me e fiquei de costas para ele.
_Foi mau. Desculpa. – As lágrimas. Malditas lágrimas.
 Saí correndo, sem se quer, ver nada.
 Fui até minha árvore favorita, subi no galho mais alto, e chorei pela minha bela mancada.
_Se você soubesse como eu te amo... – Sussurrei para mim, mesmo sabendo que ele não ouviria. – Não faria eu te desejar mais.
                                                  ***
 No jantar, as meninas foram correndo em disparada a mesa. Uma delas quase me derrubou da escada, mas o bom de ser vampiro é não ser desastrada. Mas em quase tudo, era exceção a regra.
 Depois de chorar igual uma babaca, escondi o verdadeiro sentimento, atrás de um sorriso.
 Por isso tinha de ser explicitamente proibido?! Eu o quero. Mas não posso tê-lo. Mas, dessa vez, eu queria arrancar meu coração. Assim, puf. Eu morreria.
 A vergonha, a raiva e o sentimento de magoa, vagavam em meu coração. Ao invés de ir para mesa de jantar, fui para o meu quarto.
 Abri a porta, entrei, fechei e tranquei-a.
 Sentei na cama, abracei minhas pernas, fiquei totalmente encolhida e comecei a chorar de novo. Minhas lágrimas ultimamente fluíam sem parar. As sombras, que viam de dentro de mim, começavam a se manifestar em meu quarto. Com todo o meu ódio, acabei estourando um vaso, que eu tinha feito há pouco tempo.
 Enrolei-me no cobertor e as lágrimas, molharam bastante o travesseiro.
 Eu me sentia muito culpada. Ele não poderia pecar.
 Mais três vasos, eu urrava de ódio de mim mesma. Por que tinha que ser?! Por que ele me escolheu para ser sua amiga? Por que, eu me sentia tão bem ao ficar perto dele? Mais lágrimas.
 Eu gostava do meu último fio de natureza humana, mas será que era mais fácil ser como os outros?! Mas não, eu não era um monstro como eles. Nunca fui, e jamais serei.
 Não queria dizer que amava Sitael, por que, isso podia ter um efeito ruim. Por isso, não faria nada que o prejudicasse.
 As lágrimas não cessavam. Creio que era mais pelo remorso que eu sentia, de quase tê-lo beijado. Mas pelo menos, vi que era mais forte do que pensava. Essa com certeza eram uma prova de amor imensa. Podia ter provado de seus lábios e o trazê-lo junto a mim, lado a lado com as trevas.
 Mas não, não fiz nada disso. Ao contrário, resisti firmemente o desejo e agora, vi que não pertencia as trevas. Meu lugar, era na luz.
 Peguei o mapa do Elísio dos Assamitas e comecei a estudar. Cada entrada, cada lugar. Se fosse fazer isso, teria de fazê-lo direito. Se eu o amava, o protegeria.
                                             ***
 Estava na árvore, depois que consegui parar de chorar. Sentada em um galho. Apenas pensava na vida.
 Antes, me achava um monstro de corpo e alma. E tudo mudou, quando Sitael se fez presente em meu caminho.
 Sou e serei grata a ele, pelo resto de minha eternidade. Fez-me conhecer o paraíso, descobrir o amor verdadeiro, me conhecer verdadeiramente e uma série de outras coisas boas... E ruins.
 Senti um cheiro doce, parecido com de meu irmão mais novo. Mas era mais doce. Não entendi.
 Adônis não fazia ideia do que eu era agora, e os vampiros, nem se quer, sabiam quem era minha família. Nem se quer de onde eu vinha.
 Senti uma mão fria, tocar em meu ombro. E os lábios, encostarem-se a meus ouvidos.
_Olá, maninha. – Disse.
 Caí da árvore e dei de cara com a lama. Fez um “Splaaaaash.”
 Levantei, tirei um pouco da lama de meu rosto e olhei para cima. Um adolescente belo olhou para mim, com um lindo sorriso.
_Desastrada como sempre, irmã. – Ele sorriu, balançando os pés.
_Adônis?! – O reconheci. Ele tinha crescido tanto.
 Ele pulou da árvore e se postou a minha frente. O abracei, com muita animação. Como era doce o reencontro com meu irmãozinho. A ternura, o reenlace. Tão doce. Dei vários beijos na bochecha e na testa. Ele se afastou, limpando o rosto.
_Nossa. – Disse ele. – Você continua a mesma.
_Você é um vampiro?! – Perguntei, pegando sua mão.
_É. – Disse ele, baixando a cabeça. – Felizmente e infelizmente.
_Mas como?! – Disse eu, assustada. – Quando?! Por quê?!
 Ele pegou pelos ombros e me abraçou.
 Senti algo puxar meu braço e me afastar de meu irmão. Caí no chão, e minhas mãos afundaram na lama. De novo!
_O que você quer vampiro?! – Disse Sitael, de um jeito agressivo que nunca vi.
_Qual é?! Está a querer briga? Ahn. – Adônis intimou Sitael.
 Puxei o braço de Sitael. E ele me olhou de um jeito estranho.
_Ele é meu irmão. – Me coloquei no meio dos dois. – Calma. Ele não ira me ferir.
 Adônis me colocou atrás dele, como quem protege, acima de tudo.
_Não encoste um dedo em minha irmã, seu anjo sujo. – Disse ele. – Acha que não sei que você observava minha irmã, quando ela era mortal? Que você não a matou, por que queria que ela correspondesse seu amor?! Hã?!
 Olhei para Sitael e Adônis entendeu o olhar de Sitael. O silêncio se propagou por alguns segundos. Sitael corou em segundos e meu coração pulsou.
 Aquilo me fez cair no chão, e o sangue da Diablerie correu em minhas veias secas, velhas e inutilizadas.
 Sitael me pegou no chão, desesperado. Adônis colocou um dos dedos em meu pescoço e percebeu. Minha besta estava sendo controlada.

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