quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Capítulo 6 – Lobos (Dedicado a uma grande amiga, chamada: Victória Zanellato Cancellier)

 O silêncio fora quebrado, assim que dei um gemido de dor. Sitael estava ao meu lado, segurando a minha mão.
 Minha visão começou a voltar até alcançar a nitidez perfeita. Comecei a sentir minhas mãos, elas estavam mais vivas. Meu corpo estava dolorido e vivo. Como quando eu era mortal.
 Mas meu coração não batia. A pele continuava pálida, os sentidos mais aguçados. A diferença, é que a cor da aura de Sitael estava mais forte. Estranho... Aquele branco estava diferente, um tom dourado e rosa...  A base da aura estava rosa, um pouco acima dourada e o resto totalmente branco. Não... Não, não, não, por favor, não.
 A aura dele já estava começando a ficar colorida, isso não podia acontecer.
 Um toque-toque na porta, me fez sair dos meus pensamentos. A porta fez um rangido desgraçado e vi a imagem do meu irmão.
_Melhor, irmã? –Disse ele, ajoelhando-se ao meu lado.
_Ahn... – Gemi, coloquei a mão na testa, bem perto do olho, deixando-a limpar o rosto e acordar um pouco. – Acho que estou.
_Sitael, tenho coisas a fazer. – Disse ele, levantando-se. – Cuide dela por mim. Por favor.
_Não precisa nem pedir, Adônis. – Disse Sitael.
 Adônis disparou a correr e pulou a janela. Ouvi seus passos até certo ponto e depois o perdi de meu campo de audição. Sitael, voltou seu olhar para mim.
_Você não está bem... – Disse ele.
_Já disse para não ler minha mente, quando eu não preciso que a leia. – Disse eu, com uma voz estressada.
 Ele passou a mão em meus cabelos negros, e seus dedos deslizaram até meu queixo. Seu rosto se aproximou do meu...  Ele aconchegou-se e seus lábios carnudos, foram até meu pescoço. Estremeci com sua respiração quente, contra minha pele fria.
 Afastei-o de mim, com as mãos ainda fracas.
_Você não pode pecar, seu idiota. – Disse eu.
_Quem disse que eu quero permanecer anjo?! – Disse ele, em um tom meio... Qual é a palavra... Talvez ousado.
_Eu disse e ponto final. – Respondi, com raiva de mim. – Assunto encerrado. Ponto. Hunft!
 Um pouco distante de nós, ouvimos latidos e uivos. Não eram cães, eram... Lobos. O olhar de um deles quebrou a harmonia da escuridão do bosque. Um deles rosnou para mim. Até que o outro latiu e o que rosnou, recuou.
 Um homem, com aparência de... Sei lá, 18 anos. Apareceu, seguido por uns cinco lobos. Ele me fuzilou com o olhar. Os não, lobisomens, não. Logo agora. Olha que eu nem estava procurando confusão.
_Você. – Ele referiu-se a mim. – Vampira. Sejamos pacíficos. Não é de nossa natureza conversar com vampiros, mas precisamos de auxílio.
_Entendo. – Levantei-me, logo recuperada. – Em que podemos ajudar?
_Estamos à procura da chave do apocalipse. – Disse ele. – Precisamos de uma cobertura. Entende?
_Estávamos mesmo precisando de outro lugar, onde nos abrigar. – Respondi.
 “Será que não é uma armadilha?!” – Perguntei mentalmente para Sitael.
 “Pouco provável. Eles estão tensos por conta do seu cheiro. Acho que são confiáveis” – Respondeu ele.
 Fique muito irritada com o comentário do meu cheiro, mas fingi não ouvir.
 Após uma discução interminável, (eu já estava ficando passada com aquilo), determinamos que: Iríamos ajudá-los e eles nos ajudariam.
                                                                                     ***
 Já na aldeia dos lobos, eu fitava o mar, sentada em um pedaço de tronco caído e arrebentado. Eu olhava as conchas que estavam a beira do mar, elas dariam excelentes runas Janárricas. Eu fiquei a refletir. Pensei no filme: “O mestre das armas”.
 Huo Yuanja vivia querendo ser o melhor e mais temido de sua redondeza. Tamanho seu orgulho e seu desejo, que se aprofundou em um mar sem fim. É como a fala do gênio de Aladim: “Seu desejo, é uma ordem.” Mas cuidado com o que deseja. Às vezes, os desejos não são tão bons como parecem.
 Eu deixei que algumas lágrimas caíssem. Não pedi para ser esse monstro. Ser dependente de sangue, e veias absurdamente cheias de vida. Chorei mais. Meu desejo era evoluir, e não parar no tempo e viver a eternidade amaldiçoada. As palavras que me tornariam mortal de novo, seriam: “Eu te liberto.” Mas, jamais ouvi isto. Talvez o meu “sim”, para o homem louro, deva ter sido, o principio para este tormento sem fim.
 Debulhei-me em lágrimas, ao me lembrar de que não havia mais motivos para que eu existisse. Eu era desnecessária.
 Senti que uma mão extremamente quente, tocou meu ombro. Assustei-me e afastei por instinto. As lágrimas foram barradas, e as últimas gotas escorreram por meu rosto. O garoto/lobo me analisou por um momento e disse:
_Houve alguma coisa? – Ele perguntou, preocupado.
_Não houve nada. – Respondi, tentando disfarçar a dor. – Não se preocupe.
_Se está chorando, é por que houve alguma coisa. – Disse ele.
_Por favor, deixe-me sozinha, com meu inferno e pensamentos melancólicos. – Respondi, sem nenhum desprezo na voz. Minha raiva foi essa. Ela saiu tão suave e doce, de um jeito que eu não queria.
 Tentei ir, mas ele segurou meu braço. Tentei me soltar, mas ele não deixou.
_Qual seu nome? – Perguntou ele.
_Ananka.
 Ele estendeu a mão e eu apertei sua mão.
_Chamo-me Davi.
_Prazer em conhecê-lo, Davi. – Assenti.
_Bem-vinda a nossa humilde morada. – Disse ele. Ninguém havia dito isso.
_Já morei em um lugar parecido. – Disse eu, dando um sorriso torto. - Só que lá incluíam bruxarias, feitiços e todo tipo de criatura que se imagina. Menos lobos.
 Ele sorriu da ironia, mas ele percebeu que eu queria esconder o porquê de minhas lágrimas.
_Ananka... Você também usa outro nome, não é? – Perguntou ele. – Pois, as maiorias dos vampiros escondem seus nomes antigos.
_Conheceu outros vampiros? – Perguntei. Droga! Nunca iria dizer meu verdadeiro nome, sem precisar.
_Conheci... Mas foi há muitos anos. – Respondeu ele. – Qual seu verdadeiro nome?
_Nunca direi. – Respondi. – Desculpe.
 Sai a andar e fiquei andando perto do mar. Eu estava com a mão nos bolsos, e os cabelos amarrados em um coque espatifado. A calça jeans toda estourada e os pés descalços.
 Eu estava a admirar tal beleza que a reserva tinha... Era bonita. Do nada vi uma sombra que pulou em cima de mim e eu caí na areia. Sitael ria, por cima de mim.
_Sitael, sai de cima. – Disse eu, tentando não rir.
_Ah! Eu só queria te assustar. – Ele se levantou rindo, me ajudou a levantar.
_Otário. – Disse eu.
 Peguei um punhadinho de areia e joguei nos pés dele. Ele pegou outro punhadinho e jogou no meu pé. Corri para a beira do mar e joguei água nele... Foi assim, até sairmos pingando água salgada.
                                                                                          ***
 Com o corpo seco e a roupa quentinha, fiquei a ver os garotos jogarem basquete. Eu tentava desenhar eles jogando, mas obviamente a movimentação rápida, prejudicava um pouco. Mas não era impossível.
 O mais jovem deles, ficou a me olhar. Parecia ter mais ou menos a minha idade de aparência. Por que é meio óbvio também, que ele não tivesse 100 anos. Nossa! Hoje estou igualzinha ao Google, falando somente coisas óbvias. Irônico, não é?!
_Ana! Venha jogar conosco. – Chamou ele.     
_Eu não jogo muito bem. – Respondi. Também, nasci desprovida de uma altura boa.
_Vem! – Chamou de novo.
 Larguei o lápis e o caderno e andei até eles.  Ficou aquele silêncio...
_Você tem um cheiro muito doce! – Disse um deles.
_É, eu sei. – Respondi. – Parece cheiro de cadáver com rosas.
_Eu não ia dizer isso, mas sou obrigado a concordar. – Ele respondeu, querendo rir.
_Ahn... Bom, está é minha amiga Ananka. – Disse Davi, vendo que aquilo não ia funcionar.
_Vocês são...? – Perguntei.
_Eu sou Dib. Ele é Fuad, Hassan, Jafar e Kaab. – Respondeu o garoto chamado Dib. Ele apontou para um de cada vez.
 Todos os lobos eram apenas garotos. Os chefes dos lobos são apenas como conselheiros ou mandantes. É bem confuso, mas é organizado. Acho... Mas enfim, era o nosso novo lar. Fomos bem recebidos, apesar de meu cheiro não ser muito agradável aos lobos.
  Olhei para Davi, e ele deu um lindo sorriso. Ih! Isso não vai dar certo.
 Sitael veio correndo, e chegou até nós, ofegante. Segurei-o para que não caísse.
_O que houve? – Perguntei, ele conseguiu manter o equilíbrio e soltou-se de mim, apoiando as mãos nos joelhos.
_Uma menina da reserva... – Disse ele. – Ela está possuída. A posseção é tão forte, que nem eu consegui exorcizá-la.
 Apoiei Sitael ao meu lado, e fomos até a tenda onde estava a garota.
 Encarei a tenda por um minuto e avancei tenda adentro. A garota estava amarrada, sob as varas de bambu, onde se formava a cabeceira de uma cama.
_Jade... Há-há-há. Que prazer revela minha cara. – A garota ria... Como ela podia saber meu nome verdadeiro. O nome de quando eu era mortal. – Por que não cumprimenta sua antiga amiga de infância?!
_Aaliath?! – O que houve com ela? – Como... Você virou um demônio.
_Descobriu agora, gênio?! – Disse ela, ironicamente.
_Cale-se criaturinha insignificante. – Disse eu. – Você não é a minha velha amiga Aaliath. Você uma copia extremamente mal feita.
_Como podes dizer isso?! – Gritou ela, com uma voz demoníaca.
_Se és quem você diz, qual era o código que eu e ela usávamos? – Essa era a minha principal arma.
 O silêncio pesou sob nossas cabeças, e ela me fitou com um olhar sombrio. Seus olhos saíram do negro mais fumegante, para o branco mais puro.
_É espertinha demais, para o meu gosto, menininha. – Ela me olhou com uma cara enojada.
_Eis aí, minha vantagem. Eu sou esperta, e você não. – Respondi, dando um riso irônico. – Faça as honras. Quem é você?
_Meu nome, pequeno apocalipse, é Lilith. – Respondeu ela, com uma voz sedosa e aveludada, que mesmo assim, não me deixei enganar. – Eis quem é. O pecado da carne.
_O que você quer? – Perguntei, grosseiramente. – Diga-me, cretina asquerosa.
_Você. – A forma imaterial dela veio até nós, com a intenção de me possuir.
 Mas nossa surpresa, que um tipo de escudo se formou sob nós. Tamanha minha força que consegui transformá-la em um escudo áureo, que nos cobriu. Um branco cristal.
 A tenda começou a balançar, assim como o chão, que estava abaixo de nós estávamos.
_Acquijure te espiritus, nequissimi per Deum onipotentem. – Gritei e sua forma imaterial se desfez diante de nossos olhos.
 Uma luz que pareceu tomar conta de mim, se expandiu, fazendo que os olhos ficassem em um branco cristalino. E uma luz invadiu a sala, que veio de mim. A maioria dos presentes no recinto foi atirada para algum lugar.
 Arruinei minhas forças. O escudo se desfez pouco a pouco, e a luz que veio de dentro de mim, começou a se apagar. Caí no chão, quase lúcida. Vi a imagem de Sitael e alguns garotos lobos correndo até mim. Apaguei.
 A partir daí... O que aconteceu?!
 É uma boa pergunta. E a boa resposta, é: Não faço à mínima ideia.

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