quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Capítulos 2 – Caçados (Dedicado ao Flávio Souza, por ser meu amigo e me dar ideias)

   No dia seguinte, a escola parecia, como era antes. Andei até chegar ao meu armário, quando um grupo de patricinhas, resolveu mexer comigo. Não era a pessoa mais indicada para isso.
_Ananka Gugish. – Disse ela, fechando a porta de meu armário. – A nova esquisitona do colégio. – Disse ela rindo, fazendo as seguidoras rirem.
_Muito prazer, poço de futilidade. – Retruquei, sem dó. – Se quer chamar atenção, por que não vai posar na Playboy?!
_Como ousa, esquisitona? – Disse ela cravando as unhas no meu braço, que pareciam serem feitos de mármore.
_Não encoste um dedo em mim, sua porca anoréxica. – Disse eu pegando sua mão, entortando e dando uma chave de pescoço. – Se mexer comigo mais uma vez, as conseqüências serão... Hm... Como posso dizer?! Muito ruins.
 Aquele rostinho de anjo escondia um demônio azedo.
 Sitael começou a andar atrás de mim e gesticulou com as mãos e a cabeça sua indignação.
_Será que dava para você ser um pouco menos violenta?! – Disse ele.
_Sou pacífica, até certo ponto. A natureza vampírica e a natureza Nefilim, convergem para um lugar do meu coração, chamado: Ódio. – Respondi, com a mão no peito. Dei-lhe um olhar penetrante.
 Ele me avaliou e nada disse. Apenas baixou a cabeça e continuou andando até chegarmos à sala de biologia.
 Sentamos-nos à mesa e a aula iniciou. Quanto mais o professor falava, mais entediada eu ficava. Ele e aquela maldita régua dele batendo no quadro me irritavam. Ele tinha cabelos brancos, arrumados em um topete. Óculos que a armação parecia ser feita de titânio. A barriga de chope deixava claro que ele era sedentário. A pele branca com muitas sardas e rugas, que dizia sua idade. Uns 58 anos, para ser exata o suficiente.
_Senhorita Gugish. – Disse ele, me tirando dos pensamentos. – Está prestando atenção?
_Sim, senhor. – Respondi, com o tédio iminente em minha voz.
_O que eu acabo de dizer? – Perguntou ele, desafiando-me.
_ A Biologia Molecular é o estudo da biologia em nível molecular, com especial foco no estudo da estrutura e função do material genético e seus produtos de expressão, asproteínas. Mais concretamente, a Biologia Molecular investiga as interacções entre os diversos sistemas celulares, incluindo a relação entre DNA, RNA e sintese proteica. É um campo de estudo alargado, que abrange outras áreas da Biologia e da Química, em especial Genética e Bioquímica. – Repeti exatamente o que ele dissera, mas com o tédio continuava evidente.
 Irritado com sua bela mancada. Inspirou a derrota e expirou indignação. Aquele ar tinha ganhado tanto humor naquele momento.
_Depois da interrupção causada pela senhorita Samovare, vamos prosseguir com a aula. – Disse ele, fuzilando-me com o olhar. - Na Biologia Molecular são frequentemente combinadas técnicas e ideias provindas da Genética, Bioquímica e Biofísica não existindo distinções muito definidas [...]
 Quando abri minha boca para protestar, Sitael pois a mão na minha, deixando-me sem jeito. Sorriu como quem diz: “Não acredito no que vejo!”. Tirei minha mão da dele, o mais rápido que pude.
                                               ***
 Levantei da minha cama, morrendo de sede. Eu não estava com muita vontade de caçar naquele dia. Fui até o quarto de Sitael para falar com ele. Bati na porta, e fui entrando devagar. Não havia ninguém. Fui até sua mesinha, e vi sua agenda aberta. Nela estava escrito:
       Hoje, coloco em ação, a morte da primeira Nefilin. Seu nome é Ananka. Embora tenha me dado auxílio, tudo foi como imaginei. Meus planos derão melhor que o esperado.
 Enfim. Essas serão as últimas horas dela.
                                                                               Sitael.
   Aquilo na folha, parecia sangue. Que ódio... Que ódio! Sabia que não devia acreditar nele. Desde o pricípio, eu sabia.
 Encostei-me na parede e comecei a chorar. Até que ele apareceu na porta.
_Que bom que está aqui?! – Disse ele, escostado na porta, fuzilando-me com o olhar.
 Ele fechou a porta, e ficou me olhando, de um jeito sombrio. De modo que nunca tinha visto. O ódio percorreu meu corpo, fazendo-me levantar, barrando as lágrimas. Dei um urro de ódio, pulei, deixando que as garras me deixanssem suspensa no teto. Até que voei para cima dele. Ele investiu contra mim, e fui arremessada para a estante, onde vários livro cairam em cima de mim. Levantei-me pronta para atacar.
_Por que quer me matar? – Perguntei.
_Eu não quero te matar. – Disse ele, com uma expressão confusa.
_Resposta errada. – Respondi, pulando para cima dele.
 Eu o derrubei no chão, ele me jogou para o lado, e me pegou pelo pescoço, levantando-me – aos 40 cm do chão – sem dó e nem piedade.
_Eu é que pergunto. – Disse ele. – Porque queres minha vida?!
_Eu não quero te matar, seu idiota. – Respondi.
 Ele me atirou para fora da janela. Pulei na árvore para pegar impulso até a janela. Apareci na janela, mostrando os caninos. Grandes e afiados. Lembrei dos poderes que os Nefilins tinham. Tentei usar aqueles da mente. Projetar imagens na cabeça dele parecia uma boa ideia. Concentrei-me e criei a imagem de que o chão se partia.
_Saia da minha cabeça. – Ele colocou a mão em sua cabeça, e caiu no chão.
 Uma luz surgiu em sua mão, aquela luz cegava. Ele bateu aquilo contra o meu peito, me fazendo cair em sua cama. Deixando a marca de meu corpo ali. Estragando quase todo o estofamento. Aquela coisa que ele usou para me acertar, parecia queimar em mim. Dei um urro de dor. E voei nele. Subi por cima de seu corpo, e comecei a esmurra-lo. Ele se levantou e arremessou-me no chão.
_Chega! – Disse ele, apontando o indicador para mim. – Sou um anjo da paz. Não quero brigar. Traidora.
_Vou embora! – Disse eu. Malditas lágrimas. – Encontre outro Nefilin para matar.
 Pulei pela janela e sai correndo. Corri até a igreja. Entrei, pois a porta estava aberta. Subi as escadas e fiquei na parte de cima, onde eu podia ver tudo. Comecei a chorar feito uma idiota.
_Estou sofrendo por aquele idiota?! – Senti raiva de mim mesma. – Como pude ser tão imbecil?! – Sussurrei a mim mesma.
 Depois de uma hora mais ou menos. Uma menina, entrou gritando. 
_Saia do meu corpo! – Gritou ela. – Seu corpo me pertence, agora. – Gritou ela com uma voz demoníaca. Ela estava possuída...
 O padre saiu de uma sala e veio correndo. Sem pensar, pulei de lá de cima, para ajuda-lo. Ele pegou algumas cordas e uma cadeira e as trouxe até mim.
 Ele pegou sua biblia e começou a rezar.
_Você é a vampira que esta ajudando Sitael?! – O demônio caiu na gargalhada.
_O que sabe... Foi você. – Disse eu. – Você escreveu o bilhete. E armou alguma coisa, para ele achar que eu queria matá-lo e vice-versa.
_Você é esperta! – Disse ele, rindo. – Socorro... Ajude-me. Pelo amor de Deus. – A menina gritou.
 O padre pediu que eu a segurasse, enquanto ele chamava o bispo. Enquanto ele foi, com toda a minha violência e água benta, descobri onde Sitael estava. Quando o bispo chegou, eu comecei a correr.
 Corria, quase fui atropelada duas vezes, enquanto eu passava em algumas ruas. Um deles fez gestos obcenos e gritou, mas naquela crise... Era impossível que eu desse sequer um sorriso. Cheguei ao bosque, aquele era um dos bosques mais lindos que já vi. Árvores sempre majestosas e bem podadas, flores multicoloridas, peixes lindos nos lagos. Mas agora, não podia contemplar toda aquela celestial beleza.
 Continuei correndo e pouco a minha frente, vi a imagem de Sitael, frente a frente com um homem possuído. Tinha de agir rápido. Antes que eu pudesse dar mais um passo, o demônio me arremessou para uma árvore.
_Sitael. – Disse ele, balançando a cabeça negativamente, com um sorriso debochado na cara. – Você os envergonha. Recorreu a uma Nefilin.
_O que tem demais, seu demônio imprestável?! – Disse eu. Debatendo-me para me soltar. Deixei os caninos bem a mostra, para que ele entendesse que não estava brincadeira. Mas sabia que não ia adiantar quase nada.
 Sitael tentou investir contra ele. Mas antes que ele pudesse executar o movimento, o demônio o atirou para uma árvore. E então, voltou-se novamente para mim.
_Quem é você?! – Perguntei. – O que você quer?
_Meu nome, querida. – Ele fez uma pausa. – É Alaster.
 Senti toda minha respiração trancar.
_Pare. – Gritou ele, estendendo a mão. – Vai matá-la.
_Está é a ideia, meu caro Sitael. – Disse ele, rindo debochadamente.
 Alaster pareceu se distrair, e então, vi que minha força estava muito maior. Sitael me lançou um olhar desconhecido, mas que de certa forma, entendi.
 Soltei-me da árvore e comecei a esmurrar o seu rosto.  Sua pele era tão fria, que deduzi que era um cadáver.  Sitael, se levantou e começou a sei lá... Rezar. Alaster pegou uma faca, como a de um livro. Matava todo tipo de criatura.  Extremeci. Lembrei dos meus novos dons. Mas não sabia se eles teriam um efeito muito bom.
 De repente, na minha mente, a árvore começou a cair. Alaster colocou isso na minha cabeça... Eu tinha certeza. Sua sugestão, não podia ser aceita. Então,  comecei a pular pelas árvores em volta, afim de deixá-lo perdido,  então, peguei a água benta que havia pego do padre e comecei a jogar nele, enquanto pulava.  Um, dois, três, joga. Assim eu fazia para acerta-lo. Um pouco debilitado, por conta da forte água benta, ele me prendeu contra uma árvore, só que dessa vez, arrebentando os meus ossos. Concegui sair de seu poder, e então o ataquei com minhas presas. Ele urrou de dor. Ele cravou a faca em meu abdôme.
 Então, Sitael começou a brilhar. E uma coisa... Uma espada, parecia crescer em sua mão.
 O demônio me pegou pelos cabelos e bateu minha cabeça contra uma árvore. Por sorte, consegui me soltar e fui até o topo da árvore.
_Se sou uma Nefilin, sou uma descendente da luz e da escuridão. – Levantei a voz. – Eu morro, mas você vai junto.
 Joguei-me da árvore. E deixei que meu corpo caísse por terra.
_Fecha os olhos. – Gritou Sitael.
_O quê? – Perguntei confusa.
_FECHA OS OLHOS! – Gritou novamente.
 Antes que meu corpo caísse, um clarão se ergue diante de meus olhos, e então eu os tapei com o braço direito e com o esquerdo protegi o rosto. Tamanha era a força, que fui arremessada para o outro canto do bosque. Dei um grito mas tudo se apagou.
 Não sentia mais dor. Não sentia nada...  Vi Sitael ao lado de meu corpo. Segurando uma de minhas mãos, ele disse coisas que eu não compreendi. Ah! Entendi... Morri. Agora eu sabia como era morrer, e era bom. Você não sentia dor, você descobria o sentido real das palavras “felicidade” e “paz”.
 Um corredor, a minha frente... Quem diria... Aquela piadinha de “não entre na luz” era real. Mas ao que tudo indicava, eu era o único auxílio na terra para Sitael.
 Outra luz, um pouco menos forte que a outra, mas não menos pior. Aquele clarão veio para cima de mim e de repente. Dor, ódio... Tudo que eu sentia. Tudo. Os sentimentos de felicida e paz, fugiram em um milésimo de segundo. Corpo. Meu corpo. Eu podia senti a conexão se restabelecendo. Respiração... ritmada, mas muito fraca. Coração... Este já tinha parado de funcionar a muito tempo. Olhos, pouco-a-pouco foram redescobrir o mundo, depois de ter passado para o mundo intermediário. Dor, não só na alma, como no corpo... Aquela dor imensa se expandia. A morte era fácil, indolor. A vida... É uma droga! Nenhum mortal, jamais conheceu a verdadeira felicidade em vida, sem que contemplasse a luz divina.
 Eu conheci a felicidade, mas escolhi sofrer... A vida, por mais dura que seja, sempre foi doce. Basta apenas, que cada um faça dela... Um sonho. Como diria Anne Rice: “Nenhum humano, jamais conheceu a verdadeira felicidade”.
 Gritei... Dor. A visão embaçada que pouco a pouca voltava ao normal.
 Vi o rosto de Sitael. O alívio de eu ter regressado a vida, era notável em seu rosto. Seu rosto estava muito próximo do meu, assim como os lábios. Mas algo estava diferente... Sitael, brilhava... Uma luz branca. Aquilo... Aquilo... Era a aura dele.
_Gostou da viagem para o mundo intermediário?! – Perguntou ele, quase em um sussurro.
_Sim. – Meus lábios se moviam ao mínimo, e a voz, recobeta pela roquidão.
 Seus lábios roçaram nos meus.
_Com medo?! – Perguntou ele.
_Sim. – Respondi, sem desviar o olhar.
 Ele se levantou e pegou meu corpo. A dor veio em um flash.
 Agora entendo, por que a harmonia nunca devia ser quebrada.

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