quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Capítulo 1 – Anjo caído

“Primeiro dia de aula” no High School. Mudei-me recentemente para Washington, com aquela desculpa de que sou uma pobre orfã, cujos pais foram assassinados e aquele Blá-blá-blá todo, choramingo para lá e soluços para cá... Francamente, eles eram mais burros do que eu imaginava. Fui aceita e tudo mais. Já matriculada, vi que minha primeira aula era de história. Tá para mim! Seria como ficar olhando a palma da minha mão.
 Comecei a andar pelos corredores até achar meu novo armário. 133 era o número. Aqueles suspiros já estavam me deixando envergonhada. O número da sala era Laboratório 14. Fácil de encontrar. Andei um pouco e cheguei à sala, olhei em volta e vi que tinha escalamento e o garoto que sentaria-se à mesa ao lado, era sinistro. Não que eu também não fosse, mas nossos olhares fuzilavam um ao outro e não deixava que escapasse uma fagulha de emoção. Seus olhos eram negros, como a noite. Cabelos igualmente escuros. E a pele branca, quase como a minha – que convenhamos, mais parecia uma folha de papel-, e seu olhar era tão intenso que me sugava por inteira, sem deixar nada voltar.
 Ele tinha a expressão de um anjo. Um anjo caído. E francamente, caminhar com anjos não era meu forte.
 Sentei-me na mesa, e olhei para o outro lado, fingindo que não percebera a presença dele ali ao meu lado.
_Olá. – Sua voz era intensa, penetrante. – Qual seu nome, senhorita?
_Ananka Gugish. – Respondi. – E você?
_Sitael. – Nós não permitimos que nossos olhares se encontrassem. Mas eu notei que ele deu um sorriso maligno. Que significava confusão garantida.
 O professor começou a falar e a aula, em minha opinião, poderia estar menos tediosa. Quando faltavam vinte minutos para acabar a aula, ele esticou a mão e colocou um bilhete em minha mesa.
 Abri-o e o conteúdo dizia:
        Encontre-me perto do estacionamento, assim que as aulas acabarem.
                                                                        Sitael.
  Estranho... Um garoto com letra bonita. Vai chover.
                                                  ***
 Assim que a aula acabou, fui para perto do ginásio, perto do estacionamento, onde estava totalmente deserto.
 Sentei-me na arquibancada e ouvi alguns pensamentos, com aquela voz intensa.
_O que algo como você, faz em uma escola? – Perguntou ele, atrás de mim.
_O que você acha?! – Respondi, virando a cabeça e levantando-a em um tom irônico. – Estudando.
_Não matarás. – Disse ele, citando um dos dez mandamentos.
 Espere aí... Como ele sabia que eu era uma vampira?!
_Até o diabo pode citar as escrituras quando lhe convém. – Respondi.
_William Shakespeare era um bom escritor. – Disse ele. Aproximando-se de mim. – Mas não vamos perder o foco.
 Ah! Agora caiu a ficha. Ele talvez fosse algo parecido comigo.
_O que você é? – Perguntei.
_Descubra por si mesma. – Respondeu ele.
 Que bom que tinha vantagens em ser vampira. Com a minha rapidez e minha força.  Joguei-o para o lado e rasguei sua camiseta.
 Ok. Devem estar achando que sou pervertida. Não sou. Vou explicar por que. Se ele fosse vampiro, provavelmente teria a marca da mordida. Lobisomem teria aquela marca de lobo no ombro. Demônio, duas marcas, que pareciam asas. Anjo, um “V” nas costas, ou se fosse um anjo caído, teria uma cicatriz também em forma de “V”.
 Eu vi uma cicatriz em “V” e caiu a ficha. Ele era um anjo caído. Isso explica aquele olha que me fuzilava com o olhar. O bem e o mal são desiguais.
_Quem diria... – Debochei. – Anjo Sitael... O que deseja?
_Quero sua vida, Nefilim. – Disse ele, pegando-me pela gola da blusa.
_Rá-rá-rá. Acredita que eu sou uma Nefilim. – Disparei a rir soltei sua mão de minha blusa. – Sou filha de bruxos, seu idiota.
_Seu pai era um anjo caído. – Respondeu ele. Eu ri em dobro.
 Meu pai era sinistro, mas nunca cheguei a perguntar algo pessoal sobre ele. Eu soube, quando era pequena, por que quis ouvir atrás da porta, minha mãe brigando com meu pai, por que ele queria me matar, só para se tornar humano. Mas nunca entendi.
 Agora entendo. Eu era uma Nefilim. Eu sempre tive uma marca como um “V” nas costas. Mas não parecia uma cicatriz.
_Lembrando do passado?! – O debochou.
_Por que não se cala?! – Respondi.
 Um estrondo violento ecoou no ginásio. A única vez que ouvi um barulho daqueles, foi quando alguns demônios vieram me intimar, com corpos de outros Nefilins.
_Por favor! Diga-me que não está sendo seguido. – Olhei para trás e ouvi mais uma vez aquele barulho.
_Estou. – Respondeu ele.
_Eu disse para não falar. – Dei um soco na perna. Respirei e tranquilamente disse. – Tudo bem... Isso vai contra meu código de conduta, mas eu vou te ajudar.
_Droga! – O barulho se aproximou mais. – Vamos dar o fora daqui!
_Não vou com você. – Disse ele, afastando-se de mim.
_Cala boca. Você não tem escolha. – Puxei-o e ajeitei-o em meus braços.
 Sem vacilar, comecei a correr o mais rápido possível.
                                                     ***
 Chegando ao abrigo, coloquei-o no chão. Entramos e disse algumas histórias mirabolantes e ele se cadastrou e conseguiu permanência no abrigo.
 Sentamos em uma mesa, frente a frente.
_Comece a contar. – Disse eu. – Você tem uma hora para convencer-me a te ajudar. Caso contrario, drenarei seu sangue até que vá para o mundo intermediário.
_Está bem. Fui expulso por me apaixonar por algo que não devia. Sucumbi ao desejo de tê-la. – Disse ele. – Agora preciso matar dois Nefilins, para recuperar minhas asas.
_Ótimo! – Respondi. – Não me convenceu. Diga-me o que quer?
_Que me ajude a encontrar dois Nefilins. – Respondeu ele. – Quero minhas asas de volta, e depois de recuperadas, poderá me pedir o que quiser.
 Finalmente uma proposta tentadora. Será que eu poderia voltar a ser humana. Mas espera um minuto, se eu sou uma Nefilim, sempre fui e sempre serei imortal.

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